25 nov de 2015
Brasil – Avicultura sofrerá com mudanças climáticas
Criações de frangos poderão ser fortemente afetadas pelas mudanças climáticas. Pesquisas mostram que animais adultos são sensíveis a altas temperaturas e apresentam elevada mortalidade acima de 38°C de temperatura ambiente. O estresse por calor é responsável por grandes perdas no rendimento de frangos, provocando diminuição do peso corporal e aumento de mortalidade. Essas aves têm seu máximo desenvolvimento entre 18 e 20°C, apresentando temperatura média da superfície da pele ao redor de 33ºC e temperatura interna de 41ºC. Cientistas pesquisam soluções como aclimatação, melhoramento genético e tecnologias relacionadas à infraestrutura das granjas.
Conforme a pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente (SP) Magda Lima, há  necessidade de mais estudos e levantamentos sobre as localidades sujeitas a temperaturas diárias extremas cujas condições sejam críticas para a atividade avícola. Um trabalho desse tipo foi realizado por pesquisadores da Faculdade de Engenharia Agrícola da Universidade Estadual de Campinas (Feagri/Unicamp) no Estado de São Paulo. No estudo, temperaturas diárias acima de 32ºC foram consideradas extremas. O estudo também descobriu que as médias registradas das temperaturas mínimas são bons indicadores de risco. Com esses números, é possível prever aumento ou redução de risco para a atividade caso as médias subam ou desçam, ao longo do tempo.
“Algumas reações aos efeitos da mudança do clima na avicultura incluem a redução do consumo de alimento, na performance de poedeiras, nos níveis de fertilidade; atividade reduzida; aumento da mortalidade e surgimento de doenças,” detalha a pesquisadora da Embrapa, que lembra outro efeito indireto importante: um cenário de aquecimento global afetaria também as lavouras de grãos, componente majoritário da dieta das aves.
Os pesquisadores apostam em novas tecnologias para mitigar esses problemas. “A termotolerância tem sido pesquisada, como, por exemplo, a aclimatação com exposição de aves recém-nascidas ao estresse por calor ou aves com genes que conferem redução no empenamento [aves com menos penas], que são tentativas para se conseguir melhor comportamento nessas condições”, diz a pesquisadora.
Pesquisas buscam características avícolas visando a maior adaptação ao aumento de calor. Um dos alvos desse trabalho são as galinhas-africanas de pescoço pelado que poderiam participar de cruzamentos para aprimoramento de linhagens.
Outra solução eficaz estaria no investimento em instalações que amenizem os efeitos de altas temperaturas. “Acredito que o setor avícola tem acompanhado de perto as necessidades e demandas de adaptação que as mudanças do clima impõem a animais de criação, e, como toda atividade econômica, os produtores já devem prever a importância de se investir em novas tecnologias e infraestrutura para manter a produção, sob risco de sofrerem eventuais perdas”, ressalta Magda.
Avicultura e GEEs
Há também linhas de investigação que tentam fazer com que a própria avicultura emita menos gases de efeito estufa (GEEs). Trabalhos com avaliação do ciclo de vida têm mostrado que a produção avícola tem emissões menores que sistemas de produção de carne de bovinos. Na criação de aves, os maiores emissores de GEEs seriam decorrentes da produção de grãos e uso de combustível fóssil para aquecimento das instalações de criação.
A redução dessas emissões poderia ser obtida com  adoção de medidas de conservação que minimizem as necessidades de aquecimento e pela substituição de combustível fóssil por outras fontes de energia, como combustíveis renováveis.
A pesquisadora da Embrapa lembra que a destinação de resíduos e dejetos das aves é outro aspecto importante a ser levado em conta, já que as emissões de metano decorrentes de dejetos animais dependem muito do sistema de manejo de esterco utilizado, bem como das condições e a forma como o sistema é operado. “Sabemos que o confinamento de animais tende a provocar maior produção e concentração de dejetos que, tratados de forma anaeróbia [sem oxigênio], irão produzir metano. No caso da avicultura, entretanto, boa parte do esterco é seca e precisa da adição de água para as operações de conversão a biogás. Os altos níveis de amônia e as necessidades de água para diluição são alguns dos desafios para a digestão de esterco de aves”, informa Magda.
Biogás
A produção de biogás a partir de dejetos animais constitui uma boa prática na produção agropecuária, pois promove um conjunto de benefícios ambientais, sociais e econômicos. Com diversas oportunidades de aplicação, e muitos desafios para garantir uma boa performance, o esterco de animais confinados tem sido cada vez mais utilizado para produção de biogás no País. A mitigação de gases ocorre, sobretudo, quando o biogás é utilizado como substituto do combustível fóssil ou madeira. Mesmo assim, é preciso uma boa gestão dos sistemas de tratamento de dejetos, frisa a pesquisadora, que também defende a difusão de conhecimentos  e maiores investimentos em capacitação e pesquisa.
No agronegócio brasileiro, os principais responsáveis pelas emissões brasileiras de GEEs são os setores de agropecuária (37%) e energia (37%). Dessas emissões, 55,9% devem-se à fermentação entérica dos ruminantes; 35,9% têm origem nos solos agrícolas; 4,8% são atribuídas ao manejo de dejetos de animais; 1,9%, ao cultivo de arroz inundado e 1,5%, à queima da cana-de-açúcar.
Só o rebanho bovino brasileiro, que representa a maior população de ruminantes no País, com mais de 200 milhões de cabeças, segundo as estatísticas do Sistema IBGE de Recuperação Automática (Sidra) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), contribuiu, em 2012, com a emissão de 11,5 mil toneladas de metano por fermentação entérica. O metano é um importante gás de efeito estufa cujo potencial de ação para o aquecimento global é 25 vezes maior que a mesma quantidade de dióxido de carbono.
De acordo com Magda, a pecuária é uma atividade vulnerável à mudança do clima, tendo em vista que depende da disponibilidade de água e faixas climáticas ótimas para o seu desenvolvimento. Pode ser afetada de vários modos: o impacto de mudanças na disponibilidade e preço de grãos; impactos em pastagens e forrageiras; efeitos diretos do clima e eventos extremos sobre a saúde, crescimento e reprodução animal, além de mudanças na distribuição de doenças zoológicas. Os impactos podem ser menores para sistemas de produção intensiva, já que esses controlam a exposição de animais aos efeitos diretos do clima e fornecem oportunidade para outros controles, como, por exemplo, sombreamento, aumento da circulação e condicionamento do ar e alterações de celeiros e abrigos.
A pesquisadora também explica que embora se tenha uma percepção de que a pecuária é mais resistente às mudanças do clima, há muitos estudos que mostram a influência negativa de condições climáticas adversas também nessa atividade. Foram registrados maiores índices de mortalidade animal, deslocamentos de rebanhos para outras regiões geográficas além de outras consequências.

Cristina Tordin (MTB 28499)
Embrapa Meio Ambiente

Telefone: (19) 3311.2608

Mais informações sobre o tema
Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)
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