Levantamento das emissões
O levantamento das emissões foi realizado em 250 propriedades localizadas em 15 municípios das Matas de Rondônia. Os dados foram coletados por aplicação de questionários durante visitas de campo e reuniões e entrevistas com os produtores, com o apoio de técnicos da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater – RO). O objetivo foi mapear as principais fontes de emissão de gases de efeito estufa associadas à cafeicultura local, como o uso de calcário e fertilizantes (sintéticos nitrogenados e orgânicos), o consumo de combustíveis fósseis nas operações agrícolas e o uso de energia elétrica nos sistemas de irrigação. Com base nesses dados, foi possível calcular a pegada de carbono da produção de café na região.
A pegada de carbono representa a quantidade total de GEE emitido durante o processo produtivo. Essa análise permite a adoção de ajustes técnicos que reduzem as emissões, promovendo uma agricultura de baixo carbono. A cafeicultura das Matas de Rondônia registrou a pegada de carbono média de 0,84 kg de gás carbônico equivalente por kg de café verde produzido. Em prática, isso significa que cada quilo de café verde produzido (quando são considerados só os grãos e desconsideradas outras partes do fruto do café) emite 0,84 quilos de GEE.
Ronquim explica que esse resultado coloca o Café Robusta da Amazônia brasileira em posição favorável em relação à média global, especialmente quando comparado a outros cultivos tradicionais a pleno sol. Os dados do estudo foram comparados com análises feitas por outros trabalhos científicos, englobando revisões e valores médios de pesquisa (que comparam sistemas de cultivo a pleno sol com os de agroflorestas) em centenas de propriedades cafeeiras nos principais países produtores com destaque para a região da América Central.
O pesquisador ressalta que a pegada de carbono varia conforme diversos fatores, como o local do estudo, o clima, o tipo de solo, o manejo adotado, a variedade ou clone utilizado, tecnologias aplicadas, insumos e ainda metodologia empregada.
O estudo apontou que cerca de 80% da pegada de carbono é resultante da aplicação de fertilizantes nitrogenados sintéticos. Isso porque existe uma relação direta entre o aumento da dose de nitrogênio e o crescimento das emissões: quanto maior a aplicação de nitrogênio, maiores as perdas e menores as taxas de aproveitamento pela planta. Esse impacto pode ser mitigado com práticas como o uso de adubos orgânicos em substituição de parte do fertilizante sintético, o cultivo consorciado com leguminosas fixadoras de nitrogênio e o uso racional de insumos.
A cafeicultura bem manejada, com uso eficiente de recursos e estratégias de mitigação, torna-se uma aliada no combate às mudanças climáticas. O desafio de conciliar produtividade e sustentabilidade é cada vez mais relevante em um cenário global de busca por práticas agrícolas de baixo carbono. “A cafeicultura amazônica entra em uma nova fase de modernização do sistema de cultivo. Isso inclui práticas regenerativas, como manejo da cobertura do solo, uso de Sistemas Agroflorestais (SAFs), ampliação da adubação orgânica, substituição de agroquímicos por biológicos e uso racional e parcelado da adubação química nitrogenada por meio da fertirrigação (técnica que aplica fertilizantes diluídos na água da irrigação). Além disso, a Embrapa, em um processo de melhoramento participativo, tem ajudado os cafeicultores na seleção dos materiais genéticos com maior potencial produtivo, qualidade e, principalmente, resiliência climática”, enfatiza Alves.
Além das práticas agronômicas sustentáveis, destaca-se também a eficiência na gestão das lavouras por parte dos pequenos cafeicultores de Rondônia, que demonstram resiliência frente aos desafios da agricultura. Isso se deve, em grande parte, à experiência acumulada após migrarem para o estado, à adaptação às condições locais e à abertura para adoção de novas tecnologias. Essas inovações têm contribuído para ganhos de produtividade e redução da área plantada nas últimas décadas.
“Como são cultivados em pequenas propriedades familiares, muitos dos manejos dos robustas amazônicos – como a colheita – são realizados manualmente, o que contribui para a redução das emissões de GEE relacionadas ao uso de combustíveis fósseis”, pontua o líder do projeto.
Foto: Marcos Oliveira
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