O corpo do cantor Cauby Peixoto foi velado no salão nobre da Assembleia Legislativa de São Paulo, no Ibirapuera, Zona Sul da capital, na manhã desta segunda-feira (16). O corpo chegou ao local às 8h45. Por volta das 15h20, o caixão foi fechado.
Cauby morreu na noite de domingo (15), aos 85 anos. Ele estava internado devido a uma pneumonia desde segunda-feira passada, dia 9 de maio, no Hospital Sancta Maggiore, no Itaim Bibi, em SP.
O enterro acontece às 16h30 no Cemitério Congonhas, no Jardim Marajoara.
Amigos foram ao velório
A cantora Angela Maria, uma das maiores amigas e parceiras de Cauby, chegou bastante abatida ao velório por volta das 13h15. Ela foi aplaudida por fãs enquanto se aproximava do caixão.
Daniel D’Ângelo, marido da cantora Angela Maria, chegou bem cedo ao local do velório e disse aoG1 que estava no hospital ao lado de Cauby às 23h30, na hora da morte.
“Estávamos ao lado dele na cama, fizemos uma oração, um grupo de amigos, e assim que dissemos ‘amém’, ele morreu. Coisa de artista”, afirmou D’Ângelo.
Ele disse ainda que Cauby havia sido internado para tratar um problema rotineiro de diabetes. “Mas se agravou, a imunidade estava baixa, vieram essas bactérias oportunistas, e aconteceu.”
Nancy Lara, empresária e secretária de Cauby, estava muito abalada. “No palco, era meu ídolo. Fora, era meu companheiro”, lembrou ela, que morava havia 16 anos com Cauby em SP. “Comecei a ajudá-lo pessoalmente e depois profissionalmente. Foram 16 anos, 24 horas por dia. Um privilégio”, continuou, lembrando que foi “descoberta” pelo próprio Cauby após ir a shows dele. O convite para trabalharem juntos teria partido dele.
Ainda de acordo com ela, Cauby gravou neste ano um disco ainda não lançado. “Não posso dar detalhes, mas sai brevemente.”
A senadora Marta Suplicy passou brevemente pelo velório e se lembrou do convite que fez ao cantor para participar do baile em comemoração aos 450 anos de SP, quando ela era prefeita. “Eu tinha muito carinho por ele. Embora ele fosse carioca, tinha muito a cara de SP.”
Chorando bastante ao se aproximar do caixão, Agnaldo Timóteo afirmou: “Vou conversar com meu ídolo”. Timóteo também comentou que Cauby “deixou uma aula de capacidade, de beleza, de voz”. Ao dizer que a voz do cantor era raríssima, ele destacou como legado “o talento e principalmente a diplomacia”.
“Todas as duplas sertanejas que cantam romântico aprenderam muito com Cauby”, disse Timóteo. “Foi meu professor por 60 anos. Abri shows dele em 1961, em Caratinga, minha terra, Governador Valadares e Teófilo Otoni, em Minas Gerais. Naquele tempo cantávamos em circo, éramos amadores.”
Supla lembrou uma parceria de sua antiga banda, Tokyo, com Cauby em 1896. Também citou Cauby como pioneiro do rock brasileiro por ter gravado “Rock and roll em Copacabana” em 1957. Ele falou da voz aveludada do cantor, falando ainda em influências de Nat King Cole, Frank Sinatra e Nelson Gonçalves.
Durante sua passagem pelo velório, Eduardo Suplicy se lembrou de quando dividiu palco com Cauby. “Foi há uns dois anos. Ele convidou o Supla para cantar com ele lá no Bar Brahma, e eu também fui”, disse Suplicy. Perguntado qual a música cantada, disse não ter certeza. “Acredito que tenha sido ‘Blowin’ in the wind’. Quisera ter cantado ‘Conceição’…”
Em seguida, Suplicy cantarolou alguns versos do hit de Cauby, na companhia de duas ou três fãs que passavam por perto. “Coisa linda, né?”, comentou ao fim. “O povo brasileiro o amava muito, ele proporcionou alegria a todos nós.”
Silvia Scaciota, irmã da empresária de Cauby, disse que três parentes foram avisados da morte: a irmã Andiara Peixoto, que está muito idosa e, por isso, pode não comparecer ao velório, e duas sobrinhas que moram no Rio e são aguardadas em São Paulo.
Último show foi no Rio
“Nós somos a família dele”, disse Silvia. “Cauby morreu feliz, graças a Deus, porque conseguiu fazer o último show dele lá no Rio.”
O cantor estava em turnê pelo Brasil com Angela Maria e se apresentou ao lado dela no dia 3 de maio, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. A turnê comemorava 60 anos da carreira de cada um dos artistas.
Cauby será enterrado vestindo um paletó branco acetinado, escolhido pelos amigos. “Não tem nada de paetê. Cauby era muito modesto. Vesti como se fosse para ele fazer um show no céu”, afirmou Silvia. “É um traje até bem simples e sereno, porque o brilho hoje é ele”, disse D’Ângelo.
‘Dei bolo na boca dele’
Entre os fãs que foram ao velório de Cauby, a dona de casa Maria Caroni, de 73 anos, foi quem se destacou. “Ouvi Cauby pela primeira vez no rádio em 1954. Em 62, conheci ele pessoalmente na Rádio Record em SP. Era paixão”, disse.
Questionada sobre a quantos shows de Cauby assistiu, ela respondeu, brincando: “Pelo menos um milhão”. “Eu, meu marido, que já faleceu e não tinha ciúmes, e minhas filhas viajávamos muito para ver shows do Cauby”. Em fevereiro deste ano, Maria foi a um show de aniversário do cantor no Sesc Pompeia, em São Paulo: “Dei bolo na boca dele”.
Sobre sua maior loucura de fã, Maria Caroni respondeu: “Faz um ou 2 anos que subi no palco e dei um beijo nele. Ele me beijava sempre na boca. É que eu estava lá, me deu vontade e eu fui. Mas eu nunca fui atrevida e por isso ele sempre me recebia, era com respeito”.
Ela estava acompanhada das filhas Sandra, 37, e Priscila, 43. “A gente nasceu ouvindo discos do Cauby. A brincadeira era botar a peruca, pegar uma roupa com brilho da minha mãe, o microfone e sair cantando”, disse Sandra.
O artista Luiz Maurício Souza Silva chegou emocionado ao velório. “Desde 2008 eu apresentava os shows dele no Bar Brahma, aqui em São Paulo. Eu usava um boneco para representar o corpo, mas a cabeça era a minha, e ficava muito parecido. Era para dar a ideia de caricatura”, lembrou.
A paródia era conhecida como Caubyzinho. “A última vez em que fiz o número foi em um show em março. Foi engraçado porque fazia pouco tempo que o Cauby tinha voltado a usar aquele bigodão. E eu apareci de bigode também, foi bem engraçado, porque eu tinha ganhado dele uma daquelas cabeleiras, então ficou bem parecido”.
Dono de uma voz marcante – famosa em sucessos como “Conceição” e “Bastidores” –, e conhecido ainda pelo figurino extravagante, Cauby Peixoto foi um dos cantores mais populares da música brasileira. Ao longo de uma carreira de seis décadas, gravou mais de 40 discos.