17 jun de 2022
Brasil – Combustíveis – Falta de diesel já é realidade na Argentina e governo eleva porcentagem de biodiesel para 12,5%

Filas de caminhões se formam pelos postos do país em esperas de até 12 horas com escassez que já dura meses e altos preços; veja vídeo e imagens

A falta de diesel, temida de importadores a caminhoneiros no Brasil, já é uma realidade na Argentina. Para driblar a escassez e os altos preços, o governo do país deve aumentar a mistura do biodiesel no diesel por 60 dias, saindo dos atuais 5% para 12,5%, segundo fontes do setor. As informações são do jornal La Nacion.

A medida deve ser oficializada nos próximos dias. No ano passado, em uma medida controversa, a Argentina reduziu a mistura do biodiesel de 10% para 5%, mas agora vai precisar voltar atrás. Com isso, a oferta do produto gerou uma lacuna de 880 mil metros cúbicos. Além disso, há o impacto da guerra sobre o mercado de petróleo.

“A medida leva em consideração a disponibilidade de capacidade de produção de biodiesel para aumentar a oferta de óleo diesel com um produto 100% nacional, podendo elevar o volume acima dos atuais 5%”, disse a Câmara Argentina de Biocombustíveis (Carbio), sem mencionar o percentual que seria elevada a mistura.

A medida, que deve mexer com diversos setores da economia argentina, inclusive o agronegócio, já que o país é um dos maiores produtores de soja da América do Sul, foi discutida nos últimos dias com o governo e diversas entidades. Várias províncias no país enfrentam problemas no abastecimento de diesel há cerca de dois meses.

A Federação Argentina de Entidades Empresariais de Transporte de Carga (Fadeeac) levantou que, entre os dias 25 de maio a 5 de junho, 19 províncias em todo o país tinham algum problema de abastecimento, de um total de 23 mais a cidade autônoma de Buenos Aires. Desse número, 14 tinham muito pouca ou nenhuma oferta nos postos.

Ainda de acordo com a Fadeeac, mais de 1/4 dos caminhoneiros no país estão ficando mais de 12 horas nos postos para conseguir abastecer e 36% espera entre 6 a 12 horas para ter o tanque cheio do combustível.

No período de três anos, o preço do diesel na Argentina saiu de 23,05 de peso argentino o litro (R$ 0,96/l) para 113,40 (R$ 4,73/l), ou seja, um avanço de quase 400% no período. Os dados são dos fornecedores de combustíveis da Argentina.

“O histórico de utilização de corte nacional de 10%, bem como as experiências de outros países com cortes de até 20%, e o uso de biodiesel puro nas frotas argentinas de transporte público de passageiros e carga, mostram a capacidade técnica de biodiesel para substituir o diesel no transporte, além de sua contribuição para a melhoria da saúde pública e do meio ambiente”, disse a Câmara Argentina de Biocombustíveis (Carbio).

De acordo com Claudio Molina, diretor-executivo da Associação Argentina de Biocombustíveis e Hidrogênio, a indústria de biodiesel da Argentina pode fornecer esse volume maior demandado neste momento, já que utiliza apenas 40% de sua capacidade de produção, que é de 4,4 milhões de metros cúbicos por ano.

A Argentina como um todo consome 14 milhões de metros cúbicos por ano de biodiesel, considerando todas as atividades. A produção local é de 11.500.000 metros cúbicos por ano. Por sua vez, a demanda por biodiesel é de 520 mil metros cúbicos. Nesse contexto, seguindo os números, segundo Molina, a necessidade de importação é de 1.980.000.

TRANSPORTE DA SAFRA

A decisão do governo argentino de elevar a mistura de biodiesel no diesel deve movimentar o agronegócio no país, já que precisará destinar maior volume de soja para a produção do biocombustível.

De outro lado, a falta de diesel, que já é realidade no país, poderia impactar o escoamento da safra. Alguns produtores de frutas, inclusive, temem perder a colheita com a escassez. Como consequência dos altos preços dos combustíveis, o custo do frete disparou no país sul-americano.

No caso das frutas, produtores de limão já têm descartado a produção devido aos problemas de logística ou deixado os frutos no pé até cair.

“Aqui há uma fábrica que nos paga 5 pesos o quilo da fruta. Nós temos um custo de 4 pesos com colheita e frente, ou seja, sobra 1 peso por quilo. Mas quando queremos enviar para outras fábricas em Monte Caseros, Chajarí ou Concordia, esse custo sobe para 6 pesos, então não é conveniente porque perdemos dinheiro”, disse ao La Nacion o secretário da Associação de Citricultores de Bella Vista, Oscar Barbera.

TEMORES DE ESCASSEZ NO BRASIL

Uma escassez de diesel como ocorre na Argentina está distante no Brasil, conforme fontes ouvidas pelo Notícias Agrícolas. Ainda assim, o temor é levantado por entidades, de importadores a caminhoneiros, e um aumento da mistura do biodiesel no diesel também já está na pauta por aqui – atualmente está em 10% – podendo passar para 12% agora e 14% ao longo de 2022.

“A ampliação para 12% pode representar uma redução da necessidade de importação de diesel no curto prazo ou de aumento da cobertura do abastecimento de diesel pelo suprimento local, que hoje é de 38 dias para o diesel S10, conforme anunciado pelo próprio governo e pode variar em função da cadência de recebimento do diesel importado”, afirma Francisco Turra, presidente do Conselho de Administração da APROBIO.

Ao Notícias Agrícolas, a Abiove disse que “um possível aumento de B10 para B14 reduziria a necessidade de diesel mineral importado no mercado em aproximadamente 1,3 milhão de m³ no segundo semestre de 2022”, diminuindo os temores de desabastecimento.

“Isto representa 13,5% de redução das importações previstas de diesel mineral para o período, enquanto se o aumento fosse para B12, haveria uma redução de 6,7% das importações (0,66 milhão de m³)”, disse, apesar de o Brasil estar na entressafra de soja.

Fonte: Notícias Agrícolas

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