31 mar de 2016
Brasil – ESPECIAL (VI) –Paranhos: “A carne bovina pode ser o grande player do agronegócio brasileiro”

*Por Antônio Oliveira

Um parque onde e arquitetura antiga contrasta com a moderna; onde jovens técnicos e empreendedores dão segmento aos ideais daqueles que já “penduraram a chuteira”, ou que já partiram para o Mundo Maior; onde o agronegócio da pecuária, principalmente da raça zebuína tem sua casa, irradiando sua cultura, suas técnicas e seus interesses para o Brasil e o mundo: a sede nacional da Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ). Foi nela em que os jornalistas de agronegócio, integrantes do 9º Road Show, desembarcaram, no dia 17 de março, após a frutífera visita às Faculdades Integradas de Uberaba (Fazu), complexo universitário e de pesquisas fundado pela ABCZ há mais de 40 anos.  Faculdades Integradas de Uberaba (Fazu),

Portal de acesso ao parque-sede da ABCZ. “a casa do zebu no Brasil”. (Foto: Antônio Oliveira)

Nela, fomos recebidos, com delicioso almoço em requintada churrascaria dentro de seu parque, pelo carismático e cordial Luiz Cláudio de Souza Paranhos Ferreira, o 23º presidente da instituição. No almoço, um dos grandes resultados do trabalho desenvolvido pela ABCZ ao longo de seus 82 anos de existência: a qualidade e o sabor da carne zebuína brasileira.

Luiz Carlos Paranhos é de uma família tradicional de pecuaristas do Triangulo Mineiro, com propriedades também no oeste da Bahia.

Luiz Carlos Paranhos fala as jornalistas do Road Show. (Foto: Antônio Oliveira)
Luiz Carlos Paranhos fala as jornalistas do Road Show. (Foto: Antônio Oliveira)

Já na imensa sala de reuniões do moderno prédio que abriga a administração geral da instituição que congrega 22 mil pecuaristas de todo o Brasil, Luiz Claudio Paranhos fez uma explanação e respondeu perguntas dos jornalistas sobre da atual realidade da pecuária no Brasil e do trabalho desenvolvido pela ABCZ no país e no mundo, com vistas ao melhoramento das raças zebuínas; a maior produtividade, e cada vez mais com uma criação em menor espaço possível; ao marketing da carne e do leite brasileiros.

O presidente começou falando das dificuldades que os pioneiros na criação do zebu tiveram para trazer os primeiros exemplares da Índia, no final do Século Dezenove e início do Século Vinte.

– Se hoje ainda é difícil, imagina naquela época? Só que deu muito certo. 80% do rebanho brasileiro têm sangue zebuíno, com a raça predominando em estados com maior força na pecuária de corte, como os da região Centro-Oeste – disse.

Conforme ele, a missão da ABCZ é o de contribuir com o aumento sustentável da produção de carne e leite, por meio de mecanismos como o registro genealógico, que é, conforme explicou a parte cartorial da instituição, e o melhoramento genético da raça. A entidade registra, todos os anos, mais de 600 mil animais, que são incorporados ao sistema de produção do país.

– Melhoramento genético é a grande força do pecuarista, e falo como zootecnista que sou, formado pela Fazu, que é um dos braços da ABCZ. Para mim, o melhoramento genético é o grande coração da entidade. Outra ação importante, nossa, é a promoção da raça zebuína por meio de exposições, dias de campo e tudo mais que a gente dispõe para promover a raça e os nossos associados – frisou.

Paranhos "Na ABCZ não tem reeleição". (Foto: Antônio Oliveira)
Paranhos “Na ABCZ não tem reeleição”. (Foto: Antônio Oliveira)

Não há reeleição na ABCZ, falou Luiz Claudio Paranhos, destacando, de forma humorada, que isto deveria ser exemplo para os políticos no Brasil.

– De três em três anos tem que mudar o presidente e 1/3 da diretoria – apontou.

Ao longo de seus 82 anos de existência, continuou o presidente, na sua fala aos jornalistas, a ABCZ incorporou a função de representação da pecuária nacional. Ela é, hoje, a maior entidade de pecuaristas do Brasil e uma das maiores do mundo. Hoje, acumulamos também a responsabilidade de estarmos representados nos principais fóruns governamentais; nos relacionamentos com as outras entidades de representação da pecuária nacional – pontuou.

A ABCZ, ainda conforme Luiz Carlos Paranhos trabalha em todo o Brasil, por meio de 340 colaboradores, contando com o respaldo legal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

Conforme ele, dos mais de 200 milhões de cabeças de gado bovino do Brasil, 168 milhões são de sangue zebuíno. São 22 mil associados produzindo boa genética para mais de 3 milhões de propriedades rurais no Brasil.

– A atividade pecuária é a única atividade econômica presente em todos os municípios brasileiros, de acordo com o IBGE – lembrou.

– Em todos os estados, onde tem a raça zebu, a ABCZ está presente. Nestes temos feito reuniões muito produtivas para discutir, entre outras coisas, as demandas dos nossos associados. Na minha gestão – que já dura 2 anos e 6 meses – eu já fiz 98 viagens de visitas em todo o Brasil. Fiz quatro internacionais. Eu entendo que é esta a função da ABCZ, sair pelo país, principalmente por regiões onde têm mais zebuínos produzindo carne e leite, procurando fazer com que os associados entendam como podem usar essas ferramentas que vocês estão vendo aqui – disse.

Raça brahmans, uma das linhagens zebuínas que vai muito bem no Brasil. (Foto: Divulgação)
Raça brahmans, uma das linhagens zebuínas que vai muito bem no Brasil. (Foto: Divulgação)

Essa estrutura consiste, entre outros itens, de assessoria nas áreas da diplomacia, jurídica, de representação política e de administração de governança. Toda esta estrutura, explicou, sempre visa efetivamente o aumento da produção de carne e leite no Brasil, o marketing e o bom relacionamento da entidade junto aos demais setores civis econômicos e políticos da sociedade no Brasil e no mundo.

Ainda conforme o presidente da ABCZ são feitos, todos os anos, aproximadamente 13 mil atendimentos a  propriedades rurais.

– Nós fazemos, praticamente, um rally da pecuária todos os dias. Todo dia tem alguém da ABCZ em alguma propriedade. Se a gente dividir 13 mil atendimentos por 11 meses, serão mais ou menos 1.300 propriedades por mês – disse Paranhos, numa comparação com os tradicionais rallys anuais pela agricultura e pecuária brasileiras.

Os 22 mil associados da ABCZ tocam cerca de 8 mil propriedades rurais no Brasil.

Ainda sobre o trabalho de extensão da entidade, Luiz Carlos Paranhos, citou que os 104 técnicos da instituição são zootecnistas, engenheiros agrônomos e veterinários que levam o conhecimento ao campo.

– Por exemplo, nosso técnico chega a uma propriedade e vê que seu proprietário tem um rebanho de boa qualidade genética, porém não tem técnica de manejo, não tem pasto adequado. Essa turma nossa tem essa capacidade de identificar falhas e orientar o produtor a procurar meios de aproveitar melhor a qualidade genética de que dispõem – frisou.

Paranhos explicou ainda que 95% das iniciativas de capacitação da entidade são gratuitas, atingindo 8 mil pessoas por ano em todo o Brasil por meio de cursos, palestras, oficinas, etc.

Numa parceria celebrada, em 2012, entre o Canal Rural e Fazu, a ABCZ oferece diversos cursos na área de agropecuária que são transmitidos para todo o Brasil e o mundo pelo sistema de transmissão via satélite daquele canal de TV. O conteúdo é produzido pela ABCZ e Fazu e a produção e transmissão do Canal Rural.

– Interessante que, no primeiro ano do Agrocurso – que dá a opção do aluno receber o Certificado do curso, pagando uma taxa de R$ 100 – mais ou menos 800 pessoas fizeram essa inscrição e um desses foi um campeão brasileiro de futebol, Gilberto Silva, e eu entreguei o diploma para ele – comemorou.

Ainda no quesito estrutura de divulgação e comunicação da ABCZ, Luiz Carlos Paranhos, lembrou que a instituição tem uma revista, de periodicidade bimestral, com tiragem de 10 mil exemplares.

– É uma revista institucional que fala muito dos nossos projetos, mas também tem a parte técnica e científica – disse.

A ABCZ, prosseguiu seu presidente, participa, anualmente, de aproximadamente 200 exposições agropecuárias no Brasil e no mundo. Três dessas exposições são organizadas e promovidas por ela – ExpoZebu, ExpoZebu Genética e Expo Dinâmica.

O moderno Centro Administrativo da ABCZ, em Uberaba. (Foto: Antônio Oliveira)
O moderno Centro Administrativo da ABCZ, em Uberaba. (Foto: Antônio Oliveira)

Nessas ações de marketing no Brasil e no mundo, o presidente disse que há interesse muito grande dos criadores de zebu pelo mercado norte-americano. Ele lembrou os contatos que a entidade está mantendo, principalmente com empresários e políticos em Miami. Tanto esta cidade, quanto todo os Estados Unidos são mercados em potencial para a qualidade da carne brasileira.

Outro programa de iniciativa da ABCZ, com vistas a promoção da carne e da raça zebuína é o Game, via Internet, voltado para as crianças – o Zebuzin -, que em um ano, após seu lançamento, em 2012, atingiu a marca de 5 milhões de visualizações.

– Nossa ideia e levar esse programa para o Ministério da Educação – revelou.

Voltando aos números, Luiz Carlos Paranhos lembrou que a produção de carne brasileira gira em torno de 10 milhões de toneladas de fibra de carcaça. O consumo interno brasileiro é dos maiores do mundo – segundo ou terceiro per capta, algo entre 39kg/40 kg/ano -, gerando uma demanda de 8 milhões de toneladas de carne/ano, com excedente para exportação.

– O Brasil vende para praticamente quase todo o mundo e gerou, no ano passado,  um superávit de US$ 5,9 bilhões – apontou.

Sistema de criação

No seu sistema de criação, ainda conforme o presidente da ABCZ, o Brasil usa 1 hectare para cada 1,3 cabeças de gado. Isto, informa Paranhos, é menos de uma unidade/animal. (Esta referência equivale a um peso médio – do bezerro ao animal terminado –  de 450 quilos).

– Quem trabalha com pecuária sabe que é perfeitamente possível trabalhar com 1,5/2,0 animais por hectare. Há projetos que trabalham com 6,8 a 10 animais por hectare. Mas não vamos longe, não. Vamos pensar em 1,5 unidade/animal/hectare e uma taxa de desfrute um pouco melhor – defendeu.

Ele explicou esse número/hectare e a taxa de desfrute ideal.

– O que é a taxa de desfrute? Temos que antecipar a comercialização desses animais para 3,5 anos; ao invés da vaca produzir leite a partir dos 3 anos, que ela produza a partir dos 2 anos. Se você aumentar a taxa de desfrute e o processo rotacional, melhor será a relação custo-benefício – disse.

Exportações e aumento da produção

Ainda conforme Luiz Carlos Paranhos, a projeção da ABCZ era pular a produção de 10 milhões de toneladas para entre 18 milhões  e 20 milhões de toneladas de carcaça.

– É possível o Brasil pensar nisto. Se a gente aumentar para entre 18/20 milhões de toneladas, o que vai acontecer? Nós não vamos comer 80 quilos de carne/ano – podemos aumentar um pouquinho esse consumo para 42kg a 43kg per capta/ano -, mas a diferença, o salto na nossa produção,  pode ser comercializada lá fora. Quer dizer, ao invés de mandarmos soja ao preço de U$S 2,4 mil a tonelada para o exterior, a gente pode mandar carne que dá mais de U$S 3 mil dólares a tonelada. Então, essa é a ideia: a pecuária brasileira tem potencial que pode ser o grande player do agronegócio brasileiro, batendo inclusive o complexo soja – calculou o presidente da ABCZ.

Luíz Carlos Paranhos anunciou ainda que há previsões que o Brasil possa passar dos U$S 30 bilhões a U$S 35 bilhões em faturamento com as exportações da carne nos próximos 10 a 15 anos, transformando essa proteína animal no principal produto de exportação do Brasil. Mas para que isto ocorra, ele continuou, existe, “obviamente”, uma série de “coisas” que envolvem esse processo.

– Em primeiro, ter o mercado certo. A gente tem que conquistar novos mercados e isto é um desafio muito grande. A Abiec (Associação Brasileira da Indústria da Carne) tem trabalhado muito nisto. Em segundo lugar, vem a pouca ajuda dos nossos governos, infelizmente – frisou.

O executivo disse que teve a oportunidade de viajar para a Índia e China numa missão oficial (do governo brasileiro, liderada pela ministra Kátia Abreu) e empresarial (com vários empresários e líderes do setor de carne no Brasil) e viu o empenho gigantesco da ministra Kátia Abreu nas negociações de reabertura e abertura de mercados, principalmente da China, em relação a carne.

– Mas pouco empenho do Ministério das Relações Exteriores. Acredito que, pela dimensão do agronegócio brasileiro, o ministro das Relações Exteriores deveria ser alguém com mais sensibilidade ao agronegócio do que a gente tem hoje – criticou.

Ainda de acordo com as considerações de Luiz Carlos Paranhos, se se não abre novos mercados, o pecuarista quebra.

– Aí, fazer o que? Diminuir as áreas de pastagens e produzir mais soja, mais milho – completou.

China, o grande mercado

Avenida de acesso interna do parque-sede da ABCZ. (Foto: Antônio Oliveira)
Avenida de acesso interna do parque-sede da ABCZ. (Foto: Antônio Oliveira)

Ainda sobre a China, o presidente da ABCZ disse que o consumo per capta de carne bovina neste país é de 6 kg/ano e se os chineses aumentarem esse consumo em 1 kg, o Brasil já não terá, atualmente, mais carne para vender para eles. Por isto ele considerou que a viagem da missão liderada pela ministra Kátia Abreu a China foi muito boa.

– Durante uma reunião, na qual estava presente o presidente e demais executivos da Cofco, a maior empresa de importação de alimentos da China, formada em sua maior parte por capital estatal, eles nos falaram que, em relação a carne, a ideia da China é, nos próximos anos, importar 5 milhões de toneladas. Isto é a metade da carne exportada em todo o mundo. Quem vai vender isto, Uruguaí? Não. Astrália? Não. Tem que ser o Brasil. O maior exportador de carne para a China é a Austrália. Mas este país não tem mais condições de ampliar sua produção. Então, a tendência do Brasil é ‘explodir’ suas exportações de carne para a China – enfatizou.

Para Paranhos, há uma diferença  entre a China e outros países compradores da carne brasileira. A China quer comprar tudo que o boi fornece.

– Os chineses pagam bem pelas carnes nobres, isto agrega valor ao nosso produto. Na África, no Oriente Médio, na Europa se paga menos por cortes nobres. A China, não. A China paga bem, por isso o interesse da Abiec em ampliar o mercado chinês – pontuou.

Ainda sobre a recente visita dos brasileiros a China, Paranhos disse que a sensação que ele teve é que, atualmente, a preocupação dos chineses não é mais sustentabilidade.

– Eles não estão nem ai. O que eles querem é quantidade, é segurança alimentar. E segurança alimentar não no sentido de comida um pouquinho melhor, ou um pouquinho pior. Eles querem é fornecimento, porque não querem passar fome – informou.

Paranhos considerou ainda aos jornalistas que a China tem muito dinheiro para investir na produção de alimentos no Brasil.

– E investir aqui do  jeito que o brasileiro quiser: na garantia da compra da nossa safra; aportando dinheiro para aumentar a nossa produção e produtividade, ou para comprar terras para eles mesmos produzirem. Eles não têm saída. A África (com grandes áreas de terras a serem exploradas) para eles é uma opção muito ruim, apesar de ter clima e solo bons em algumas regiões. Mas tem muitos problemas como a mão de obra e políticos – pontuou.

Além do grande país asiático, conforme lembrou o presidente da ABCZ, tem todo o Oriente Médio.

– Eu ouvi falar também do Interesse do Iraque. Mas não, diretamente na carne, mas no nosso boi vivo. O país (por questões culturais) prefere abater o gado por lá mesmo – disse.

*Antônio Oliveira viajou a convite da Texto Comunicação Corporativa.

Próxima e última matéria da série: Uma visita a Agropecuária Casa Branca, no interior de Minas Gerais, que faz a seleção genética das raças Simental, Angus e Brahman.

 

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