Brasil – Leite – Inovar no setor leiteiro é possível – e necessário
*Por Ana Paula Forti, Diretora da área de Processamento da Tetra Pak Brasil.
Ana Paula Forti da Tetra Pak Foto: Germano Lüders 09/12/2021
O mercado lácteo é um setor alto potencial de crescimento: 80% da população mundial consome leite ou derivados de maneira regular, de acordo com o relatório Dairy and Socio-Economic Development, da Global Dairy Plataform. Porém, mesmo que o consumo de leite faça parte da rotina dessas pessoas, o setor de laticínios ainda carrega características de uma indústria tradicional, marcada por práticas consolidadas e estruturas que mudaram pouco ao longo do tempo.
Por outro lado, a humanidade passou por mudanças que resultaram em novas maneiras de pensar, ver e vivenciar o mundo – que também passou por alterações – e a cadeia leiteira, mesmo que seja uma indústria tradicional, precisa acompanhar. Modernizar processos, investir em equipamentos mais eficientes e incorporar tecnologias sustentáveis não é mais uma opção: é uma condição para seguir competitivo.
Há uma cobrança crescente do mercado por qualidade, segurança, rastreabilidade, uso responsável de recursos e inovação. E, ao mesmo tempo, também temos uma mudança no consumidor, que hoje presta muito mais atenção em aspectos como origem, composição e impacto dos alimentos. Ele quer produtos alinhados aos seus valores: mais saudáveis, com menos impacto ambiental e que entreguem conveniência sem perder o frescor. Em um cenário como esse, não há espaço para a estagnação.
Inovar em um setor tradicional, como é o caso do leiteiro, começa dentro da planta. Maquinários novos, com maior nível de automação, eficiência energética e precisão nos processos, além de soluções de digitalização e controle em tempo real, já estão disponíveis no mercado e oferecem ganhos concretos de produtividade, economia de insumos e previsibilidade operacional. Mais do que isso: permitem uma produção mais inteligente, capaz de se adaptar com agilidade às demandas do mercado e às exigências regulatórias.
E a transformação também passa pelo impacto ambiental. É possível reduzir o consumo de energia e água, minimizar perdas e valorizar subprodutos por meio de tecnologias voltadas ao uso eficiente da matéria-prima e ao aproveitamento integral do leite. Essas mudanças impactam positivamente não só o meio ambiente, mas também a rentabilidade dos negócios.
Por sua vez, a tecnologia, assim como o mundo, a humanidade e a maneira de produzir, também passou por alterações e agora é mais acessível. Embora exista uma percepção de que muitas dessas inovações em equipamentos e linha de processamento sejam caras e, por isso, devam ficar restritas apenas a grandes empresas, hoje, produtores de pequeno e médio porte também podem ter acesso a tecnologias de ponta, com eficiência, segurança e sustentabilidade, tudo isso sem comprometer o custo-benefício.
Por isso, mesmo em um setor consolidado como o leiteiro, há espaço para avanços contínuos. Porém, vale lembrar, o tempo, como diz o ditado, pode ser um grande aliado da indústria nesse momento: a inovação não precisa vir de uma disrupção radical, mas sim da atualização constante de processos, equipamentos e mentalidade. Mesmo que ela ocorra em pequenos passos, essa transformação exige dos produtores atenção às tendências e abertura para investimentos que trazem a possibilidade de retorno financeiro – muitas vezes a curto prazo. O futuro dos laticínios passa, necessariamente, por decisões tomadas agora, com base em dados, visão de longo prazo e disposição para sair do lugar comum.
*Ana Paula Forti iniciou sua jornada na Tetra Pak em fevereiro de 2010, em Monte Mor (SP), como Gerente de Projetos. Após 12 anos a executiva assumiu o cargo de Diretora de Processamento na Tetra Pak Brasil, que ocupa até hoje. Ana é formada em Engenharia Química pela Escola de Engenharia Mauá e possui pós-graduação em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).