04 abr de 2024
Brasil – Pecuária – Menos silagem e mais grãos – dieta de gado confinado melhorou, segundo pesquisa

Distribuição programada da comida e menor quantidade de volumosos estão entre os fatores que enriqueceram a alimentação dos animais e podem aumentar produtividade

Uma pesquisa da Unesp em Jaboticabal, interior de São Paulo, aponta que a qualidade da dieta do gado brasileiro confinado para abate melhorou. O estudo foi feito entre o final de 2023 e início de 2024, com 36 nutricionistas responsáveis pela alimentação de seis milhões de animais de todo o país. Este número corresponde a 80 por cento dos bois confinados do Brasil.

Um dado que chama a atenção é que os nutricionistas estão diminuindo a inclusão de ingredientes volumosos (forragem) na dieta do gado. Essa parte da alimentação é composta principalmente por silagem de milho e, às vezes, por silagem de capim e bagaço de cana.

Em 2009, quando foi divulgado o primeiro levantamento sobre o assunto, os volumosos correspondiam a 28,8% da alimentação do gado confinado. Na pesquisa divulgada agora, o percentual caiu para 15,7%. Em contrapartida, cresceu a inclusão de ingredientes concentrados, como grãos de cereais, considerados a principal fonte de energia para bovinos confinados, de 71,2% para 84,3% em 15 anos

Entre os grãos mais utilizados na dieta do gado, o milho foi a primeira opção para 97,2% dos entrevistados na pesquisa. “Quanto menor a quantidade de volumoso na dieta, menor o custo operacional para o produtor. Além disso, a tendência é que o animal ganhe mais peso e permaneça menos tempo no confinamento”, explica Danilo.

O levantamento sobre manejo e perfil das dietas fornecidas a bovinos em confinamento aponta também para desdobramentos benéficos para o meio ambiente. Segundo os nutricionistas ouvidos pelo pesquisador, o número de clientes que usam coprodutos na dieta aumentou de 79,7% para 92,7%, entre 2009 e 2023. Entre os coprodutos mais comuns estão a polpa cítrica (26,4%), caroço de algodão (17,6%), torta de algodão (17,6%), casca de soja (8,8%), e os DDGs (20,5%), grãos secos de destilaria que são coprodutos da indústria de etanol de milho, considerados alternativa econômica e de alta qualidade proteica na dieta de bovinos.

“O aumento do consumo desses coprodutos pelo gado confinado é um ótimo sinal, pois os animais estão comendo resíduos nutritivos para eles e que, caso contrário, se transformariam em lixo na natureza”, destaca o pesquisador.

Alimentação programada e abate em crescimento   

A melhor distribuição da dieta do gado também está entre os fatores que afetaram positivamente a qualidade da alimentação. O sistema conhecido como bica corrida, por exemplo, usado por 20% dos entrevistados, tem sido substituído pelo método de descarregamento programado, preferido por 80%.

“Pelo sistema de bica corrida, o produtor não tem controle sobre a quantidade de alimento que está sendo distribuída em cada baia, o que aumenta a chance de desperdício. Já pelo descarregamento programado, isso não acontece, porque é possível saber com mais precisão a quantidade requerida por cada grupo de animais, e há diversas alternativas tecnológicas para isso à disposição do criador”, afirma Danilo.

A pesquisa revela ainda que, em 2023, o percentual de animais confinados destinados ao abate subiu de 13,3% (39,1 milhões de cabeças) em 2021 para 18,2% (42,3 milhões de cabeças). É mais um indicador de que o confinamento pode trazer bons resultados aos produtores que querem mais produtividade em menos tempo.

O estudo constatou também que 80,9% dos clientes dos nutricionistas confinam animais da raça Nelore, de origem indiana, e que vem passando por constante melhoramento genético.

O Brasil tem um rebanho estimado de 202,8 milhões de cabeças bovinas, segundo a Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes), o equivalente a 12,18% do rebanho mundial. Esse número é 3,3% maior do que o calculado em 2021. O país já é o segundo que mais confina no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos.

Sobre o pesquisador

Danilo Millen é PhD em Nutrição de Ruminantes, Zootecnista e doutor pela Unesp, com mais de 15 anos de experiência. É autor do livro “Rumenologia – Uma viagem ao fantástico mundo do rúmen” e professor da Unesp em cursos de graduação e pós-graduação em Zootecnia e Ciência Animal. Danilo também é consultor técnico com foco em nutrição e formulação de dietas para bovinos de corte, reconhecido como uma das maiores autoridades em nutrição animal do Brasil.

Foi pesquisador visitante na Universidade de Wisconsin-Madison, nos Estados Unidos, e na Universidade Autônoma de Barcelona, Espanha. Orientou mais de 15 dissertações de mestrado e teses de doutorado, além de mais de 100 alunos em projetos de iniciação científica.

É pesquisador bolsista de Produtividade e Pesquisa PQ1D-CNPq, criador e host do Canal de Rumenologia e cofundador do Programa C@rne 4.0.

Fonte: Ascom pesquisador

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