06 jul de 2021
Brasil – Pecuária – Minhas vacas vão começar a parir, mas não tenho pasto. O que fazer?

Em entrevista ao Giro do Boi desta terça, 06, o médico veterinário Márcio Bonin, gerente de tecnologia e marketing da Connan, trouxe uma abordagem prática a respeito de suplementação para a época seca do ano, sobretudo no que diz respeito ao tratamento das fêmeas para a estação de monta.

“Quando a gente tem ainda aquele capim verdolengo, o pessoal ainda vai levando, vai empurrando um pouquinho. Mas agora, com o capim seco, não tem mais para onde correr. É hora de pegar firme na suplementação e tomar os cuidados devidos para garantir a produtividade dos animais”, advertiu.

Bonin destacou que o cuidado com a suplementação de fêmeas é especial quando comparada com a de animais destinados à engorda. “A gente não pode pensar na nutrição de fêmeas como uma nutrição para abate, que em 90 a 120 dias você colhe os resultados. Nutrição de fêmeas é feita por estação. A gente chama de safra. Então tudo o que você fizer agora vai refletir daqui a seis meses, um ano. É uma questão que você vai construindo essa fertilidade. Não é que você vai conquistar a fertilidade em três meses, você vai construir. Então diante de tudo o que você fez no período de águas, você tem que garantir agora. O que foi bem feito no período das águas, é hora de a gente assegurar isso aqui, garantir. Por que isso? Porque a grande probabilidade da vaca emprenhar na entrada das águas na estação de monta é quando ela pare bem! Então a gente não pode deixar cair o escore dela agora agora na época da seca”, antecipou.

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Além de separar manejos diferentes para animais de terminação e fêmeas, Bonin salientou que existe animais especiais dentro da categorias fêmeas em reprodução. “Quando a gente trabalha nesse sentido de nutrição de rebanho, geralmente a gente tem uma tendência de olhar sempre para o lote todo. Então você fala que vai tratar um lote que tem 100 vacas e você vai tratar das 100. Só que dentro das 100 vacas, a gente sabe que tem umas um pouco mais gordas, umas meia carne e outras mais magras. E a nossa pecuária evoluiu muito e já é hora de a gente olhar com mais cuidado para cada tipo de gado e direcionar a suplementação. Certamente aquela vaca mais magra a gente vai ter que dar um cuidado maior para ela agora no período de seca porque ela vai parir magra e provavelmente não vai emprenhar. Então é uma nutrição que a gente tem que fazer um direcionamento agora. Eu tenho que fazer agora em julho e ir construindo essa condição corporal para parir, uma vez que ela está prenhe – as vacas estão prenhes, em sua maioria. Ela vai parir em meados de agosto e ela deve conseguir segurar essa condição corporal até a próxima estação de monta”, sustentou.

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Dentro dos tipos de suplementação, Bonin falou sobre o sal proteinado. “O proteinado é uma excelente saída, ele é fundamental. A gente tem algumas classes de proteinados. Tem o ureado, que é para manter as matrizes que estão em boa condição corporal, aquelas que já saíram bem das águas, estão gordinhas, bonitas, aí a gente entra com um ureado. Agora para os animais que demandam um pouco mais de cuidado, um pouco mais de atenção na condição corporal em que estão, mais magros, eles precisam, sim, de um proteinado. O que é um proteinado? Proteinado que a gente chama é aquele suplemento de acima de 1 grama por quilo. Então aquela vaca de 450 kg tem que consumir no mínimo 450 gramas. Se ela estiver um pouco mais magra, a gente precisa apertar um pouquinho mais a dose do remédio, aí tem que pular para um proteinado de 3 gramas (por quilo). Ela passaria a comer em torno de 1,2 kg. E assim por diante”, calculou.

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Conforme destacou o veterinário, dentre as matrizes que vão entrar em monta, as que precisam de mais cuidados são as primíparas e as novilhas. “As novilhas estão na fase de crescimento e a gente está preparando esses animais. Em geral esses animais ficam mais relegados ao fundo da fazenda até atingirem 300 kg, ou dois anos de idade, mais ou menos, para entrar em estação. Como a demanda está muito grande por carne e por bezerro, é hora de acelerar um pouco a recria desses animais. E a nutrição na seca faz todo o diferencial. Então é um animal que vai comer pouco em termos de suplementação e vai responder bastante. De fato é hora de dar uma boa acelerada nelas agora na seca, ou seja, elas ganha um pouquinho de peso para que possam entrar mais pesadas em estação também. E primíparas são o grande gargalo que a gente tem. Para primíparas, a gente tem muito o que fazer e tem que suplementar. Em primíparas, não tem como a gente fazer uma suplementação baixa e querer bons resultados. A gente precisa, sim, lançar mão de um suplemento de mais alto consumo para elas porque já é um animal que se preparou, gastou dois ou três anos na fazenda e agora, por uma questão de uma estação de suplementação, a gente perde todo o trabalho e acaba perdendo esse animal pronto já para a reprodução”, alertou.

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O veterinário lembrou de um caso de uma fazenda que atendeu que fez um trabalho específico voltado à suplementação de primíparas e colheu bons resultados. “É o que a gente comentou sobre as primíparas. […] Esses animais ainda estão em uma fase de crescimento, estão amamentando, então isso já dobra a exigência de energia praticamente. O que a gente precisa saber? Agora na seca, elas pariram. A fazenda dava o mineral nas águas, um manejo comum de vaca, e depois na seca fazia um proteinado de um grama. Isso daí é entrar com meio time em campo de primíparas. Então o que a gente passou a fazer? A gente passou a fornecer um proteinado de três gramas por quilo o ano inteiro. Assim que as novilhas parem, elas entram no manejo de primípara, elas passam a comer o suplemento de três gramas por quilo e vão ficar assim até o final da estação de monta. Elas vão receber uma ajuda muito grande agora na hora de parir, quando as exigências aumentam muito. E quando elas entrarem nas águas, elas têm uma condição melhor que a média do rebanho para poder suprir essa alta demanda. Na verdade, a gente está dando o que elas precisam e isso fez uma diferença fantástica na fazenda, mudou o cenário de primíparas, o pessoal está bem satisfeito”, lembrou.

O especialista detalhou o manejo nutricional para as primíparas. “Quando ela sai de novilha e vira primípara, ela já entra no manejo de três gramas por quilo. Aí o que ela comeria no manejo de novilha, 300 gramas por dia, ela vai passar a comer 1,2 kg de suplemento por dia. Ela vai comer isso praticamente de oito a nove meses do ano. Isso dá uma força muito grande! Toda essa energia que ela está consumindo a mais desse suporte, com certeza ela vai melhorar a condição corporal dela, vai reconceber e ainda tem de bônus que ela vai criar um bezerro bom porque vai ter leite, vai ter energia suficiente para poder amamentar esse bezerro direito. Geralmente bezerros de primípara são os mais fracos da fazenda, mas nesse caso que a gente comentou, os bezerros das primíparas foram os mais bonitos da fazenda”, recordou.

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PERGUNTAS E RESPOSTAS

O gerente de tecnologia e marketing da Connan respondeu dúvidas de telespectadores em meio à sua entrevista, como a de Roberto Bacelar, do Paranpa, que disse que tem um lote de vacas que vai começar a parir daqui a 60 dias, mas ele está sem pasto. “Pasto só em setembro ou outubro”, revelou o telespectador, que quer saber o que fazer para que essas vacas tenham uma boa parição.

“A primeira coisa a ser resolvida é a questão volumosa, de estar sem pasto. Ou você precisa arrendar um pasto ou fornecer uma suplementação volumosa, talvez um feno, uma silagem, uma cana. No Paraná também é comum usar as pastagens de inverno. Então a primeira coisa é garantir o volumoso, depois entrar com a suplementação. Caso você não encontre com facilidade essa suplementação volumosa, você teria que aumentar o nível de suplementação e fornecer um pouquinho de ração para esses animais”, comentou.

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Outro telespectador, Isidro, de Pirenópolis-GO, disse que está fazendo suplementação com proteinado no cocho, mas tem pouco volumoso na sua região e quer saber se deve continuar fornecendo ureia para o gado. “Com certeza o Isidro precisa continuar com a ureia, sim. Até porque a ureia, além de ser fundamental nessa época para corrigir a proteína, mesmo com pouca forragem, ela mantém ativa aquela população bacteriana que tem no rúmen. Então por menos que o animal coma, ele vai aproveitar muito mais essa forragem. Caso ele não dê essa suplementação, esse proteinado para os animais, vai complicar mais porque, além de comer pouco, eles não vão aproveitar o que têm. Então é necessário colocar essa suplementação proteica para esses animais, para as vacas parirem o melhor possível”, frisou.

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O telespectador José Camilo também perguntou como formular a dieta de suplementos com falta de volumoso. “A falta de volumoso é um problema bastante comum no país, então a gente sempre recomenda que na entrada das águas já se faça um planejamento de volumoso para a seca. A gente sempre olha a safra. ‘Ok: estou entrando nas águas agora e preciso olhar para a seca e o que vai sobrar na seca para que eu possa atravessar esse período complicado’. Quando a gente trata de suplementação na seca de volumoso, não tem muito para onde correr também: as opções são feno, cana, uma silagem de milho, de sorgo, ou mesmo uma capineira, de repente”, recomendou.

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Bonin destacou o sorgo como opção de volumoso para o gado durante a seca. “A cultura do sorgo é fantástica, principalmente para os bovinos. O sorgo é uma cultura mais resistente que o milho, tem uma produtividade excelente e já é mais resistente à falta de água, à falta de chuvas. Nas regiões que a gente tem um déficit hídrico maior nesse período de transição, é muito comum usar o sorgo. Eu sou bastante fã dessa cultura, eu trabalhei bastante no norte de Minas onde o pessoal usava muito sorgo”, aprovou.

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Outro telespectador mineiro perguntou qual deve ser o teor de proteína da ração que ele fornece para o gado. “O teor de proteína na ração vai depender bastante do objetivo. Eu não sei se ele vai terminar os animais, se é uma ração de manutenção ou para um gado de leite. Em geral, vamos falar de ração para manutenção dos animais ou para pequenos ganhos, nas rações para a seca o teor de proteína gira em torno de 16% a 18% para o gado de leite, em geral. O mais comum do mercado vai até 22% de proteína até para 1% do peso vivo de consumo. Esse é o comum que a gente usa no dia a dia, que vai encontrar mais fácil no mercado”, disse.

Para Wesley Cauca, que perguntou se pode usar qualquer tipo de ureia na suplementação do gado, Bonin também esclareceu os fatos. “O Ministério da Agricultura só permite o uso para suplementação de bovinos da ureia pecuária. Tem a ureia agrícola e a ureia pecuária e tem uma questão técnica importante, tanto a parte de mistura quanto a parte de contaminantes de metais pesados. Isso é importante”, advertiu.

“Não tem como fugir da nutrição. É uma questão de planejamento, montou, é como se fosse uma receita de bolo. Uma vez que você faz nas primeiras vezes, você vai seguir e abrir o caderninho para fazer a receita de bolo. Ela está lá e se você errar um pouquinho para mais ou menos, o bolo tende a não dar certo. Então a nutrição você precisa fazer, precisa desenvolver, precisa se planejar e uma vez feito um ou dois anos, ela vira um protocolo na fazenda, já entra na rotina da fazenda. E essa rotina passa a fazer parte de uma coisa normal. Então essa questão de planejar forragem, já saber o que usar de suplemento nas águas, na seca, o que usar para novilha, para primíparas… Até porque os resultados são muito previsíveis e a gente já tem na literatura muitos experimentos que balizam esses ganhos. Então eu sei que se eu precisar ganhar 100g na seca, eu vou usar determinado tipo de suplemento com forragem. Se eu precisar ganhar 1 kg, eu vou buscar outra técnica, outro tipo de estratégia nutricional. Então ferramentas não faltam, elas estão disponíveis no mercado e a gente pode ajudar os pecuaristas a tomarem a sua decisão. Tomar decisão é o mais importante”, concluiu.

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Confira a entrevista completa com Márcio Bonin, gerente de tecnologia e marketing da Connan, clicando no player abaixo:

Fotos: Thiago Araújo e Andrei Neves / divulgação Embrapa Gado de Corte

Fonte: Giro do Boi

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