29 nov de 2023
Brasil – Soja – Sementes esverdeadas influenciam a qualidade da semente?

A garantia de um bom estabelecimento da lavoura e a obtenção de elevadas produtividades estão relacionadas à utilização de sementes de soja que atendam a padrões elevados de qualidade fisiológica, sanitária, genética e física. Nesse sentido, é essencial considerar que tais aspectos desempenham papel determinante na qualidade das sementes, influenciando diretamente o desempenho das plantas ao longo do ciclo produtivo, a utilização de sementes de qualidade é um dos pilares para o sucesso da lavoura de soja.

De acordo com França-Neto et al. (2012), produzir sementes de soja de alta qualidade requer condições climáticas, com maturação e colheita ocorrendo em temperaturas moderadas, de aproximadamente 22 ºC. No entanto, condições adversas, como altas temperaturas e estresses bióticos ou abióticos, podem levar à formação de sementes e grãos esverdeados, resultando em redução significativa na qualidade fisiológica, organoléptica das sementes e, consequentemente, impactando a produtividade da lavoura.

Os autores destacam que o impacto negativo é maior durante o período de maturação, quando altas temperaturas, especialmente associadas aos veranicos, prejudicam a translocação de reservas e reduzem as taxas de fotossíntese, culminando na produção de sementes esverdeadas e de baixa qualidade. A presença de sementes esverdeadas em um lote varia de acordo com o tipo, a intensidade e o momento em que ocorrem os estresses que levam à morte prematura ou à maturação forçada das plantas, além de depender da cultivar utilizada.

Figura 1. Amostra de sementes esverdeadas de soja, resultantes da ocorrência de seca e altas temperaturas durante a fase final de enchimento de grão.

Foto: Danilo Estevão.

O manejo inadequado da cultura da soja pode contribuir para a produção de sementes esverdeadas. A distribuição de calcário ou fertilizantes pode causar problemas de maturação desuniforme, resultando na colheita de sementes imaturas e esverdeadas, misturadas com sementes amarelas e maduras. A aplicação de dessecante em pré-colheita também pode contribuir para a ocorrência de sementes esverdeadas, podendo ocorrer quando a aplicação é realizada antes do estádio ideal de maturidade fisiológica (R7), ou quando é utilizada para corrigir situações de desuniformidade na maturidade das plantas (França-Neto et al., 2016).

Na fase de pré-colheita, níveis de até 9% de sementes esverdeadas podem ser tolerados. No entanto, acima desses limites, torna-se necessário remover as sementes esverdeadas dos lotes, resultando em um aumento nos custos. A remoção dessas sementes pode ser realizada por meio de equipamentos selecionadores de cores, os quais, embora caros, são eficazes na eliminação de grande parte das sementes esverdeadas (França-Neto, 2020).



Com objetivo de avaliar a influência da presença de clorofila na qualidade fisiológica de sementes de soja, Zorato et al. (2007) desenvolveram um estudo, onde foram utilizados dois lotes de sementes comerciais (A e B), com 11,8% e 37,4% de sementes esverdeadas, respectivamente. Os resultados obtidos demonstraram em sementes esverdeadas uma redução da germinação, viabilidade e vigor, além de apresentarem maiores desuniformidade de plântulas, taxa de deterioração e quantidade de lixiviados.

Também foram observados menor comprimento de plântulas, peso de mil sementes e baixa capacidade de emergência em campo. O impacto negativo foi mais pronunciado no lote B, que continha 37,4% de sementes esverdeadas, tais resultados sugerem que a presença de clorofila é um indicativo de redução do potencial fisiológico em sementes de soja. Além disso, os autores destacam que a presença de diferentes quantidades de sementes esverdeadas interfere no potencial fisiológico em soja, em diferentes intensidades.

Figura 2. Médias obtidas nos testes de germinação, envelhecimento acelerado 24 horas, emergência em campo, condutividade e massa de mil sementes, em dois lotes de sementes de soja A e B com 11,8% e 37,4%, respectivamente de sementes esverdeadas, segmentados em: semente original, semente amarela e semente esverdeada

Fonte: Zorato et al. (2007).

Outra pesquisa realizada por Teixeira et al. (2020), com o objetivo de avaliar a influência da presença de sementes esverdeadas na sua qualidade fisiológica das soja, também revelou que as sementes esverdeadas, apresentaram menor viabilidade e vigor devido a maior deterioração, proporcional a porcentagem de sementes com pigmentação verde nos cotilédones, de forma que a presença de clorofila reduziu a qualidade fisiológica de sementes de soja.

Devido a quantidade de lotes contendo sementes esverdeadas, Bordignon et al. (2017) conduziram um estudo para avaliar a influência na qualidade fisiológica desses lotes. Doze cultivares de soja foram selecionadas para análise, nas quais foi determinado o percentual de sementes esverdeadas. Posteriormente, essas sementes foram submetidas a testes de germinação, vigor (por meio de envelhecimento acelerado e condutividade elétrica) e ao peso de mil sementes. Ao analisar os resultados, os pesquisadores observaram que os lotes com maiores percentuais de sementes esverdeadas (37%, 18% e 16%) apresentaram os níveis mais baixos de qualidade fisiológica das sementes.

Figura 3. Percentual de sementes esverdeadas.

Fonte: Bordignon et al. (2017).

A ocorrência de sementes esverdeadas é atribuída principalmente ao estresse hídrico e às altas temperaturas, essas sementes não atingem a maturidade fisiológica, resultando em uma qualidade e longevidade geralmente inferiores (Pelissari & Coimbra, 2023). Considerando os efeitos negativos que das sementes esverdeadas nas características das sementes, torna-se essencial a utilização de sementes de alta qualidade, especialmente no que diz respeito aos atributos fisiológicos dada a sua influência no estabelecimento da lavoura. Sendo assim, é importante priorizar o uso de sementes de boa qualidade, evitando a semeadura de sementes esverdeadas.


Veja mais: Como o fotoperíodo influencia o desenvolvimento da soja?



Referências:

BORDIGNON, B. C. S. et al. PERCENTUAL DE SEMENTES ESVERDEADAS E SUA INFLUÊNCIA NA QUALIDADE FISIOLÓGICA DE DOZE CULTIVARES DE SOJA. Perspectiva, v. 41, n.155, p. 25-33. Erechim – RS, 2017. Disponível em: < https://www.uricer.edu.br/site/pdfs/perspectiva/155_632.pdf >, acesso em: 27/11/2023.

FRANÇA-NETO, J. B. et al. SEMENTE ESVERDEADA DE SOJA: CAUSAS E EFEITOS SOBRE O DESEMPENHO FISIOLÓGICO – SÉRIE SEMENTES. Embrapa, circular técnica, 91. Londrina – PR, 2012. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/59537/1/download.pdf >, acesso em: 27/11/2023.

FRANÇA-NETO, J. B. et al. TECNOLOGIA DA PRODUÇÃO DE SEMENTE DE SOJA DE ALTA QUALIDADE. Embrapa, documentos, 380. Londrina – PR, 2016. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/151223/1/Documentos-380-OL1.pdf >, acesso em: 27/11/2023.

FRANÇA-NETO, J. B. SOJA ALERTA SOBRE ELEVADO ÍNDICE DE SEMENTES DE SOJA ESVERDEADAS. Embrapa, Soja Radar Tecnologia, 2020. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=6CbIaj3lN2E&t=177s >, acesso em: 27/11/2023.

PELISSARI, F.; COIMBRA, R. A. SEMENTES DE SOJA ESVERDEADAS: CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS NA QUALIDADE FISIOLÓGICA. Scientific Electronic Archives, v. 16, n. 4, 2023. Disponível em: < https://sea.ufr.edu.br/SEA/article/view/1686/1753 >, acesso em: 27/11/2023.

TEIXEIRA, S. B. et al. SEMENTES DE SOJA ESVERDEADA: EFEITO NA QUALIDADE FISIOLÓGICA. Ciência Rural, v. 50, n. 2. Santa Maria – RS, 2020. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/cr/a/8GJPjzNc6yfy8fdMTdcWJcv/?format=pdf&lang=en >, acesso em: 27/11/2023.

ZORATO, M. F. et al. PRESENÇA DE SEMENTES ESVERDEADAS EM SOJA E SEUS EFEITOS SOBRE SEU POTENCIAL FISIOLÓGICO. Revista Brasileira de Sementes, v. 29, n. 1, p.11-19, 2007. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/rbs/a/t9HvtcmZRLt4VhyYbkv8NHt/?format=pdf&lang=pt >, acesso em: 27/11/2023.

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Fonte: Mais Soja

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