06 maio de 2021
Brasil – Tecnologia na Agropecuária – Software indica ponto de abate do boi confinado com 30 dias de antecedência

Na pecuária de precisão, tão importante quanto ter a informação é tomar a decisão no tempo certo a partir dela. Dentro de um sistema intensivo como o confinamento, isso se torna essencial para reduzir custo e aumentar, deste modo, a margem da operação. Foi com esta missão em mente que uma startup brasileira desenvolveu um programa, o software Beed Trader, que projeta com trinta dias de antecedência quando a curva de lucro de um animal no cocho fará sua inflexão, dando tempo ao produtor se preparar para a melhor comercialização.

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Nesta quinta-feira, dia 06, o médico veterinário Murilo Garrett Santos, doutor em ciência animal e pastagens e líder da startup @Tech, falou sobre a empresa e sobre a ferramenta Beed Trader.

“A @Tech é uma startup com foco em proteína animal. Nós trabalhamos com três fontes de proteína – peixes, aves e bovinos. E a nossa principal missão é disponibilizar tecnologias de ponta com base científica principalmente para a tomada de decisões do produtor, utilizando essa base tecnológica.[…] Nós temos clientes em quase todos os estados do País para essas três cadeias de proteína, mas o nosso principal produtor hoje é voltado para a pecuária de corte no confinamento”, apresentou.

Murilo sustentou que ainda dentro do cenário de custos pressionados para a pecuária intensiva, o produtor ainda pode obter boa margem, desde que tome boas decisões. “Mesmo com as margens apertadas, é possível ter bons números do lucro desse sistema de produção. Hoje nós temos com a alta do preço dos grãos por volta de R$ 30,00 de margem de lucro (por arroba). A gente consegue ter números positivos para esses animais que estão sendo confinados. Então mesmo com todo esse aumento de custo operacional, a gente consegue ter um saldo positivo quando é bem gerido esse sistema de produção”, reforçou.

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Mas onde está a principal dificuldade para formar margem neste sistema de produção? Segundo o veterinário, está no monitoramento dos indicadores. “Hoje o principal gargalo está na gestão do confinamento. Você monitorar todos os seus custos, isso é fundamental, não é mais um privilégio, não é mais um diferencial. Isso é necessário e é proibitivo você não gerir o seu negócio. Você tem grandes riscos de ter prejuízos em função de você não saber como está sendo o custo. E você, monitorando os seus custos, consegue identificar os gargalos onde você pode fazer as correções de forma assertiva e poder estar garantindo, mantendo as margens de como foi planejado no início do confinamento”, opinou.

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As decisões zootécnicas também fazem parte do gerenciamento, daí a importância de ter ferramentas também para sanidade ou nutrição de precisão. “Fazer um bom balanceamento da dieta desses animais é fundamental. Você utilizar melhor aquela energia da dieta, então os nutricionistas, os consultores fazem uma formulação que atende a exigência daquele animal para evitar desperdícios e aproveitar melhor aquele nutriente que está sendo disponibilizado. Tem também o fornecimento dessa dieta no cocho, onde há muitas perdas somente na passagem do trator, por exemplo. Reduzindo essas perdas, você consegue aumentar a eficiência de utilização desse nutriente pelos animais. Então você tem vários setores ao longo de todo o sistema que precisam ser monitorados. Não são somente os números que precisam ser monitorados, mas também a operação. Isso faz toda a diferença no final das contas, quando você vai calcular quanto deu de margem de lucro daquele animal”, acrescentou.

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“Uma simples leitura de cocho para você ajustar o que está sendo fornecido, isso já dá diferenças aí de 2 a 3% do total que está sendo fornecido. […] Em um grande confinamento que tem centenas de toneladas de dieta fornecida por dia, qualquer melhoria na oferta e ajuste da dieta pode trazer uma redução de custo da diária daquele animal, naquela arroba produzida”, sustentou.

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Na sequência, o veterinário listou os pontos essenciais para a saúde financeira de um confinamento, que foi tema de um artigo escrito por Anna Fett no blog da própria startup (leia na íntegra o artigo “Pronto para confinar em 2021?). Dentre os pontos, está a estratégia de venda, dentro da qual a ferramenta Beef Trader tem o maior impacto.

ANÁLISE DOS DADOS DO CICLO ANTERIOR

“Isso é um aprendizado com seu histórico de que você tem. Com análise dos dados, você consegue identificar alguns gargalos, alguns erros que não foram identificados anteriormente e pode corrigi-los nesse ciclo atual. Você também pode confrontar algumas informações, como aquilo que estava sendo produzido com o que foi abatido, e aquela informação da carcaça. Você consegue colher aquela informação e melhorar o rendimento de carcaça ainda evitando outros erros”.

INVESTIMENTOS

“Com todo esse monitoramento, você consegue identificar alguns gargalos no seu sistema em que há necessidade de melhorias. E essas melhorias podem ser uma simples mudança na frequência e no horário (do trato) […] ou algo mais estrutural, como a redução na quantidade de animais por baia, uma limpeza mais frequente de cocho, de bebedouro. Então nós, como provedores de soluções tecnológicas, conseguimos identificar diferentes pontos que são fundamentais para o sucesso da produção. Eu consigo pegar uma simples aplicação de um medicamento, de um vermífugo, de uma vitamina, e o efeito disso no lucro daqueles animais. Aí é possível investir em produtos fármacos que sejam mais lucrativos para o sistema de produção, por exemplo. Também eu posso estar comparando os meus fornecedores de material genético ou de touros que são pais dos animais que estão sendo abatidos. Então eu consigo avaliar quais são os fornecedores que dão mais retorno lucrativo, […] que dão uma margem de lucro maior”.

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DIFERENCIAR ORÇAMENTO DE FLUXO DE CAIXA

“É fundamental haver um entendimento total do que é o orçamento e um fluxo de caixa. Porque com o fluxo de caixa eu consigo elencar alguns indicadores para saber a minha saúde financeira, então eu consigo fazer alguns cálculos para saber qual vai ser o meu retorno do investimento, […] eu consigo saber quando vai ser o meu payback, em que momento todo aquele investimento estará pago e a partir dali eu já tenho lucro, e também saber o meu VPL, que é o meu valor presente líquido do fluxo de caixa. Eu posso saber quanto hoje eu tenho de caixa em R$ com esses animais que estão sendo mantidos no meu confinamento. Mas com o orçamento você não consegue ter essas informações. Você consegue planejar quanto você vai ter de investimento, quanto você vai ter de desembolso, mas você não consegue ter outros números para se planejar ou criar uma expectativa no final do confinamento”.

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PREVER NECESSIDADE DE CAPITAL DE GIRO OU FINANCIAMENTO

“Isso vai depender da estratégia, da situação de cada propriedade. Por isso é necessário ter essas estimativas de alguns indicadores econômicos para poder saber se eu preciso abater aquele animal porque preciso ter capital um novo giro ou manter esses animais. Se eu não tiver um programa de capital de giro, eu posso estar comprando mais animais do que o necessário, injetando mais dinheiro para poder aumentar essa margem, para poder aumentar esse giro que vai ter nesse ano. Então tudo isso tem que ser analisado dentro do seu planejamento com estratégias, principalmente de PDCA (em tradução livre, Planejar, Fazer, Checar e Agir), onde eu estou analisando todos esses indicadores e avaliando se é vantajoso eu fazer um financiamento ou é vantajoso eu fazer o dinheiro girar, abater esses animais mais rápido e trazer outros lotes a depender do preço da arroba que tiver no mercado futuro”.

ESTRATÉGIA DE VENDA

“O grande acerto no confinamento não é só quando você compra o gado bem, mas também quando você vende bem. O boi tem um custo e o custo por dia. Em um boitel ou confinamento próprio, você está pagando a cada dia a hospedagem daquele animal. Quando você negocia esse animal no melhor momento econômico dele, de lucro, quando ele vai te dar o máximo de margem, de retorno, você só tem benefícios. É muito gritante essa diferença em grandes confinamentos, onde você reduz um ou dois dias dos animais que estão hospedados no confinamento e esses são valores que podem passar a casa dos cinco, seis dígitos. […] A olho nu isso é muito difícil de fazer. Nós, nutricionistas, conseguimos no campo identificar o melhor momento de abate desses animais ou até mesmo monitorando alguns indicadores desses animais. Você olha para o animal e você vê que ele está redondo, você faz uma análise do que está sendo fornecido, o consumo que está sendo fornecido por porcentagem de peso vivo do animal, você consegue ter ideia de quando ele estará pronto para ser abatido. Mas essa informação só é colhida depois de um certo ponto a partir de quando é feita essa análise. E quando você identifica esse ponto, você tem um delay de cinco ou seis dias. Podem ser seis dias que você gastou para manter aquele animal no confinamento sem necessidade. Quando você coloca isso na conta, é um valor muito grande que você deixou de ganhar, podendo manter ali aquela margem um pouco mais alta”.

É quando entra no cenário a ferramenta Beef Trader. “O Beef Trader é uma solução tecnológica da @Tech, seu carro-chefe, e é uma plataforma de inteligência artificial que monitora diariamente os animais que estão em confinamento, tanto os indicadores zootécnicos como econômicos. Além de monitorar esses animais, também prediz o seu desempenho e a sua curva de lucro. Com essas informações, uma outra inteligência artificial identifica o ponto ótimo de negociação. Qual é esse ponto ótimo de negociação? […] Esse animal vai ganhando mais peso, vai comendo mais e acaba aumentando o custo da diária. E vai ter um momento que ele vai ter um plateau, uma curva, e ele não vai dar mais lucro a partir daquele momento. E o lucro começa a reduzir. Então o Beef Trader identifica o melhor momento para você negociar aquele animal”, detalhou o empreendedor em sua entrevista ao Giro do Boi.

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O veterinário destacou ainda o timing da plataforma, que oferece mais tempo para o produtor negociar suas vendas com tranquilidade e aproveitar as melhores oportunidades. “Isso é feito trinta dias antes do momento de você abater os animais. Então você consegue prever qual vai ser a margem de lucro desse animal daqui a trinta dias e você já consegue ligar para o frigorífico, negociar preço, escala e aí você, de forma muito bem assertiva, acaba aumentando a sua margem de lucro devido a essa tomada de decisão de você comercializar esse animal com base no lucro, o melhor momento de abate dele”.

Para os interessados no uso da plataforma, Santos disponibilizou seu próprio e-mailsantosmg@techagr.com, ou ainda a área de contatos do site da startup.

Ainda em sua participação no programa, Murilo comentou a popularização da engorda terceirizada de gado em boiteis. “Hoje o preço da arroba está incentivando bastante o investimento em gado e alguns desses investidores não têm propriedade, não têm estrutura física. Então o boitel se encaixa muito bem nesse negócio em que um pecuarista só tem alguns animais a pasto e não é vantajoso no cenário dele engordar esse animal a pasto. Ele quer, às vezes, aumentar o capital de giro naquele ano, quer melhorar o rendimento de carcaça, quer depositar mais arrobas em um menor período de tempo. Então o boitel vem para atender a demanda desses pecuaristas. […] E é uma solução que vem crescendo e que vem atendendo esta demanda”, observou.

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Abaixo é possível assistir na íntegra a entrevista com Murilo Garret Santos:

77 9 9926-6484 / 77 9 9979-1856