22 ago de 2014
Ioeste – Parabeniza – O Pr. Adejarlan Ramos, Pr. Presidente das Assembleia de Deus Missão de Barreiras

NOSSA, JÁ CHEGOU?

Minha relação com ela desde a infância não foi muito boa. Ela fazia parte dos meus temores da infância. Hoje levantei mais cedo e enfrentei-a. Com um calendário na mão e RG na outra somei, diminui e até dividi. Tudo em vão. Ela permaneceu fria e não se curvou diante do meu desespero. Levantou-se como uma soberana e implacavelmente me impôs uma irreversível realidade: “ Hoje dia 22 de Agosto de 2014, você faz 40 anos!”.

Qual vassalo diante de um senhor, tornei-me impotente e curvei-me a ela. Sim, a matemática neste momento se aliou ao tempo e espreitou-me, confrontando -me com os anos que com precisão foram colocados em minha conta.
De repente, abandonei o sentimento de espanto e pus-me a escrever.

Até que enfim cheguei a idade dos enta (quarenta, cinquenta, sessenta…). Quando criança, sempre sonhava com o futuro. Como chegou rápido! Pensei que o futuro era mais longe! Neste período aprendi muito.

A vida é uma grande mestra! Em cada momento ela nos proporciona preciosíssimas lições. Cada tristeza, uma lição. Cada desencanto, um aprendizado.

Aprendi com as crianças. Como autenticas filosofas elas nos questionam, a tal ponto que em alguns momentos é mais fácil explicar a lógica aristotélica do que responder algumas das suas perguntas. As crianças são sinceras, humildes e perdoam com facilidade.

Com elas avancei um pouco ao aprender a não guardar rancor. Percebi que os rancores tiram –nos a paz e nos corrói por dentro. A vida é curta demais para vivermos amargurados. Aprendi a procurar flores no lamaçal!
Aprendi também com pessoas simples.

Algumas pessoas mesmo desprovidas de academicismo, ensinam-nos. Com linguajar simples, rustico , um português surrado e uma dicção regionalista, tais pessoas emolduraram em mim pérolas de sabedoria. Meus pais foram uns deles.

Quanto ao conteúdo foi o mais variado no meu aprendizado. Aprendi que nem todos os meus sonhos juvenis poderiam se realizar. Nos períodos áureos da minha juventude, idealizei-os. Agora, já consigo separar sonhos de fantasias. Não que os perdi de todo, continuo sonhando.

Não me arrependo de os ter sonhado, foram me muitos valiosos. Deram sabor à minha vida. Sem sonhos, nossa vida se torna monótona e insipida. Prefiro a decepção de não os ter alcançado do que a dor de não os ter perseguido.

Neste período destruí alguns mitos que construí na infância. O mito por exemplo, de que os mais respeitados são os mais respeitáveis. O mito de que os grandes ícones evangélicos são gigantes éticos.

Agora, já amadurecido, percebo que muitos não passam de pigmeus éticos. Se agigantam nas funções e cargos, se apequenam na conduta ética.
Refiz alguns dos meus conceitos. De repente passei a ver conforme disse Bauman que tudo que é solido desmancha no ar. Neste período de minha existência vi muitas coisas se desmancharem.

Acompanhei relativização de absolutos a granel. Desacreditei de muita coisa, mas ainda acredito nos amigos. Vi muitos deles, na jornada cristã, ficarem para trás. Chorei! Foram massacrados pela pós modernidade e as maquinas religiosas que geram ícones e desmancham sonhos.

Aprendi que não se pode pensar em voz alta perto de todos. Tornei-me mais seletivo nas amizades. Continuo procurando amigos idealistas, que acreditam e lutam por um mundo melhor, que à semelhança de mim lutam contra o mundo, a carne e o diabo. Não suporto impiedades travestidas de falso moralismo. Quero ser amigo de quem eu não precise me proteger. Quero ter amigos e não aliados.

Aprendi a aproveitar os momentos despretensiosos da vida. A vida merece ser celebrada em todos os momentos. É no dia a dia que o comum se torna milagre. Não quero perder o encanto com o nascer do sol e uma noite de lua cheia. Não quero ser apenas engrenagem da vida, quero ser um expectador e encantar-me com cada detalhe. Quero ver Deus no sorriso das crianças, na esperança de uma mãe chorosa e na fidelidade de um casal sonhador.

Aprendi que o amadurecimento nos custa um preço elevadíssimo. Para tê-lo, chorei, angustiei-me, decepcionei-me, desencantei -me, tomei decisões erradas, falei o que não deveria ter dito, silenciei-me em hora errada, demorei desvencilhar-me dos meus encantos infantis.

Aprendi que o tempo tem suas ambiguidades. Por um lado, devora – nos, levando-nos as forças, os sonhos, os ideais, os amigos, os pais. Por outro, inspira-nos, amadurece-nos, nos torna mais sensíveis.

Aprendi a gostar mais de poesias. É com os fios que se vestem os poetas que construo minha esperança, por isso leio e releio Fernando Pessoa, Cecilia Meireles, Castro Alves, Drummond e não esqueço de minha conterrânea Cora Coralina. Os poetas tiram a rigidez das palavras e as tornam arte que inebriam a imaginação.

Aprendi a gostar mais dos livros. Aprendi que viver e gostar de livros se confundem. Com eles aprendi a ter mais esperança. Abraão, Moises, Dom Quixote, Martin Kuther King foram homens que navegaram nas aguas da esperança. Deus quando quis falar com a humanidade Deus deu inspiração aos homens para escrever.
Aprendi que viver é bom, faz bem a saúde mas tem contra- indicações. Por isso não quero fertilizar urtigas, esmerilhar punhais e nem me iludir com corredores de palácios.

Aprendi que a angustia tem seus préstimos. O que aconteceria a homens e mulheres sem aflição humana? De onde veio a genialidade de Van Gogh, a inspiração de Mozart e a militância de Luther King? Não vieram de suas angustias e incômodos?
Aprendi a ter uma espiritualidade mais madura. Nesta nova espiritualidade valorizo o silencio, não espetacularizo devoção, reconheço os pequenos milagres, não leio a Biblia para bater recordes, não insuflo pregação com clichês para espiritualizar mensagem, não meço sucesso ministerial em cargos e funções.

Aprendi que a vida é breve. A vida não tem replay. É por esse motivo que procuro apegar-me ao que é essencial. Vejo fotografias antigas para não esquecer minhas raízes. Leio para conseguir interpretar o mundo. Escuto o silencio para não ser massacrado pelas insanidades do dia a dia. Seleciono amizades para não ser vizinho de perigos. Perdôo para não expor vísceras de amargura. Alimento esperança, para não remoer pessimismo. Demoro construir amizades para diminuir a probabilidade de erros.

Finalmente quero dizer a todos que o meu aprendizado não terminou. Estou vivo. Minha historia ainda está em construção. Muitos me ajudaram a chegar até aqui, muitos outros me ajudarão a chegar mais adiante. Tenho muito o que aprender! Se você vive em função de seus ideais ,sonha com um mundo melhor e está sempre em um processo de aprendizagem, somos parceiros da estrada!. Só quero quando chegar no fim da vida poder dizer: “Valeu a pena foi bom demais”!

Pr. Adejarlan Ramos

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