A POLUIÇÃO DOS OCEANOS POR LIXO PLÁSTICO PREOCUPA CIENTISTAS E CHAMA A ATENÇÃO DO MUNDO – See
Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro
Uma noticia intrigante veio a público na primeira semana de julho, que surpreendeu ambientalistas e o mundo científíco.
Um estudo publicado na The Proceedings of the National Academy of Sciences, constatou que, quase 99% dos plásticos flutuantes nos oceanos sumiram. Uma equipe de cientistas navegou por nove meses, coletando dados sobre os plásticos existentes na superfície dos oceanos e, surpreendentemente, encontrou bem menos material que o esperado.
A notícia não é boa, pelo contrário. O “sumiço” dos plásticos sugere que tenham se fragmentado e virado comida para aves aquáticas e espécies marítimas, várias delas consumidas pelo homem.
Andres Cozar Cabañas, que liderou a equipe de cientistas autora do estudo, apresentou o primeiro mapa com a rota dos resíduos de plástico nos mares. O mapa aponta a localização e o movimento dos plásticos despejados no mar, com mais de 3.000 amostras coletadas . O mapa revela, também, a existência de um novo ecossistema baseado no plástico, batizado pelos cientistas de Platisfera (comunidades microbióticas que se desenvolvem no plástico e no lixo contido no mar). As ilhas de Plástico têm se tornado um novo habitat ecológico para várias bactérias.
O mapa servirá para que pesquisadores entendam melhor a situação do material plástico nos oceanos e desenvolvam essa nova vertente de estudos do lixo despejado nos oceanos.
Enquanto se buscam explicações, a fauna e flora marítimas estão se deteriorando.
Os animais marinhos estão morrendo ou desenvolvendo deficiências, por conta de se alimentarem ou se enroscarem nos resíduos plásticos despejados diariamente nos mares e oceanos.
Em meados de 2013, na Holanda, uma baleia de quase 50 toneladas e 14 metros de comprimento apareceu morta na praia. A necropsia do cetáceo indicou que a “causa mortis” fora a ingestão de 20 kg de plástico – suficiente para danificar o sistema digestivo e expelir toxinas fatais ao animal.
Uma outra baleia, apareceu morta na costa da Andaluzia, da mesma forma. Observou-se que a maioria do material plástico encontrado nas duas baleias é proveniente de estufas de cultivo de tomate nos Países Baixos.
Além do despejo irregular de lixo terrestre nos oceanos, os navios de turismo, cargueiros e barcos de pesca também despejam lixo em alto mar. Um grande número de redes de pesca são jogadas no mar justamente por quem deveria proteger a fauna marítima, por ser sua fonte de sustento – os pescadores.
Baleias, tartarugas, focas, pinguins, golfinhos e peixes de todos os tamanhos, aves e até moluscos, estão morrendo por consumir plástico.
O brilho que o plástico reflete, por outro lado, confunde os animais que acabam ingerindo ou se enroscando no lixo flutuante ou submerso nos oceanos – fragmentos de sacolas plásticas, tampinhas de garrafa, isqueiros, copos, garrafas, redes de pesca, lacres de diversos formatos, etc.
O albatroz e o pelicano têm sido grandes vítimas desses materiais. Por se alimentarem de animais marítimos que nadam próximo à superfície, acabam ingerindo material plástico flutuante, confundido com alimento. Além de sofrerem com o consumo desse material, as aves retornam aos seus ninhos e regurgitam alimento plastificado nos filhotes, fazendo com que quase metade morra em decorrência de perfuração do estomago, asfixia ou inanição, pelo plástico não digerido.
Outro caso que tem preocupado biólogos é o das tartarugas. Na Austrália um estudo recente comprovou a drástica e perigosa diminuição da população de tartarugas-verdes, ameaçada de extinção, em consequência da ingestão de restos de produtos plásticos. Além delas, cinco das sete espécies de tartarugas marinhas são consideradas ameaçadas ou em perigo, de acordo com a União Internacional de Conservação da Natureza (IUCN), por ingestão de material plástico.
No Brasil não é diferente. A Gremar – Associação de Resgate e Reabilitação de Animais Marinhos, recolhe nas praias brasileiras, tartarugas, pinguins, golfinhos e outros animais marinhos, mortos ou debilitados, com copos, sacolas, tampinhas e até brinquedos plásticos, no estômago.
O descarte de material plástico é abrangido pela Convenção Internacional para a Prevenção da Poluição por Navios, de 1973, chamada MARPOL, modificada pelo Protocolo de 1978 (MARPOL 73/78), incluso quanto à disposição do material poluente proveniente dos navios.
Os dispositivos da MARPOL 73/78 exigem que o governo de cada parte assegure o fornecimento de instalações para recepção portuária adequadas, sem causar atrasos indevidos. Uma instalação de recepção portuária é uma estrutura que possa receber resíduos de bordo de navios e misturas contendo óleo, líquidos nocivos e lixo. O tipo e o tamanho das instalações depende das necessidades dos navios que visitam o porto. Muitas vezes, uma simples lata de lixo ou um barril para óleo residual podem ser a instalação de recepção portuária em um porto pequeno. às vezes, grandes
tanques de armazenagem para a recepção de resíduos e misturas contendo óleo ou líquidos nocivos ou um aterro sanitário não serão suficientes.
O fracasso em estabelecer instalações adequadas representa quebra das obrigações internacionais previstas na MARPOL e irá aumentar o risco de descargas ilegais dos navios em alto mar. Por isso, onde for possível, os operadores de navios irão preferir portos com bons serviços a um custo razoável.
O problema, portanto, tem uma raiz econômica profunda, seja por conta do cumprimento da MARPOL por parte dos operadores das embarcações e dos próprios portos localizados nos países submetidos à convençao.
Da mesma forma, é necessário adoção de medidas drásticas por parte dos países banhados pelos oceanos, para o controle do descarte de lixo nos mares territoriais. Estuários poluídos por rios poluídos, baías poluídas e áreas portuárias sem gestão ambiental adequada, contribuem tanto quanto, ou mais, para a poluição marítima que o tráfego marítimo internacional.
A redução da fabricação e do consumo de plástico, bem como do descarte indevido é um imperativo mundial. Do contrário, a poluição poderá, de fato, como aliás já ocorre, fazer com que, de uma forma ou de outra, o lixo plástico retorne para nossa mesa….
Com informações do Ambiente Legal e do site: www.ioeste.com.br