11 ago de 2016
Oeste – ENTREVISTA – Turra: “MATOPIBA tem tudo para ser um grande polo de suinocultura e avicultura”

Nesta entrevista, o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Francisco Turra, se mostro muito otimista com a região

 

De acordo com Turra, que foi ministro da Agricultura, a produção de aves e de suínos caminha para onde estão os grãos.  Assim ocorreu no Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás. A tendência natural é que a área do MATOPIBA receba mais investimentos de empresas que busquem ganhar competitividade com a proximidade dos polos de produção de milho e de soja.  Há outro fator que poderá favorecer o desenvolvimento da atividade avícola e suinícola na região: a proximidade com a região litorânea.

Por Antônio Oliveira

 

"O crédito está escasso para as empresas, esteja onde estiverem instaladas.  São passos difíceis, que hoje são dados de forma mais estratégica, visando sempre a sustentabilidade"
“O crédito está escasso para as empresas, esteja onde estiverem instaladas. São passos difíceis, que hoje são dados de forma mais estratégica, visando sempre a sustentabilidade”

Cerrado Rural Agronegócios (CRA) – Qual a análise que o senhor faz do atual panorama da avicultura e da suinocultura no Brasil e no mundo?

Francisco Turra – Devo dizer que o futuro do mundo está no Brasil.  Conforme números da FAO, 40% de todo o alimento que o mundo demandará até 2025 sairá dos campos brasileiros.  Somos protagonistas em um mercado altamente competitivo, e figuramos na liderança em diversos segmentos. Exemplo disto é a carne de frango, setor no qual o Brasil ocupa o segundo lugar na produção mundial e a liderança mundial das exportações.  Em suínos, somos o quarto maior produtor e exportador do mundo. A situação atual, entretanto, é altamente desafiadora.  O câmbio altamente oscilante decresceu, agora, para R$ 3,30, pressionando nossas margens.  A ABPA já havia alertado sobre a importância do câmbio seguir a R$ 3,50. Neste contexto, os custos de produção foram impactados com a alta histórica do preço do milho, superando R$ 60,00 a saca em diversas praças produtoras.  Quando o preço do milho “aliviou”, foi a vez da soja apresentar altas.  Isto, em meio a uma das maiores crises econômicas de nosso país. Apesar de tudo isto, somos grandes e devemos continuar crescendo no mercado internacional.  Em aves, prevemos para este ano uma elevação de 8% em relação ao volume embarcado no ano anterior.  Em suínos, este crescimento deverá chegar a 28%.  Temos certeza de que continuaremos a superar os desafios, afinal, somos o “Brasil que dá certo”.

CRA –  No Brasil,  qual a relação que o senhor faz do crescimento da agricultura e da pecuária com o crescimento destes dois setores de produção de proteína animal?

Francisco Turra – O agronegócio brasileiro, de forma geral, é um setor dinâmico, altamente profissionalizado e com grandes perspectivas no cenário internacional.   Neste mesmo sentido caminha a avicultura e a suinocultura. A internacionalização segue em franca expansão, ao passo que mantemos nossos esforços em prol da manutenção do mercado interno.   Defendemos, entretanto, que seja prioridade do país os embarques de produtos acabados, com alto valor agregado, priorizando a necessidade interna de insumos.  Claro que acreditamos que os embarques de insumos como milho e soja são importantes, porém, mais estratégico é garantir que nosso país seja abastecido.  Priorizando embarques de insumos, enviamos juntos, pelo navio, os empregos e a renda para o nosso país.

CRA –  Saindo das regiões pioneiras e que se destacam na produção de aves e suínos, como Sul, Sudeste do Brasil e região de Rio Verde, em Goiás, quais os outros estados que têm se destacado no crescimento destas duas cadeias produtivas?

Francisco Turra – No Nordeste, Pernambuco, Ceará e Bahia são estados com belas produções, empresas de pontas e grande potencial para investir mais fortemente no mercado internacional.  No Centro-Oeste, o Mato Grosso (Lucas do Rio Verde e Sinop são exemplos) e Mato Grosso do Sul são fundamentais e estratégicos produtores e exportadores dos dois segmentos. O Distrito Federal também tem uma bela força nas exportações de carne de frango.  A avicultura e a suinocultura são do tamanho do Brasil.

CRA – Por que elas têm se destacado?

Além da presença de empresas  já tradicionais na produção e na exportação, vemos despontar grandes grupos regionais, com empresários arrojados, que acreditam no potencial dos setores e da região em que estão instalados.

CRA  – Uma região que vem se destacando na produção de grãos no Brasil, o MATOPIBA, tem, também, grande potencial para a produção de aves e suínos e há algumas experiências bem-sucedidas, embora com dificuldades na oferta de aves, como é o caso do oeste da Bahia. Que visão o senhor tem desta região e que futuro vê para ela?

Francisco Turra – A produção de aves e de suínos caminha para onde estão os grãos.  Assim ocorreu no Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás. A tendência natural é que a área do MATOPIBA receba mais investimentos de empresas que busquem ganhar competitividade com a proximidade dos polos de produção de milho e de soja.  Há outro fator que poderá favorecer o desenvolvimento da atividade avícola e suinícola na região: a proximidade com a região litorânea.   A região tem um grande potencial para ser um novo grande polo dos setores de aves e de suínos, o que deverá acontecer num futuro próximo.

CRA – A grande vantagem social e econômica do desenvolvimento empresarial destas duas cadeias é que elas agregam valores humanos e financeiros aos pequenos produtores, a agricultura familiar. Entretanto, em micros e macros regiões do MATOPIBA isto ainda é, ou tabu, ou barreiras de difícil travessia. No que a ABPA poderia contribuir para mudar mentalidades e políticas de governo para incrementar as duas cadeias pelo sistema de parceria indústria-granjas familiares? Para sua informação e opinião: Ainda faltam em  algumas regiões do MATOPIBA politica de incentivos, linhas de crédito para investimentos em estrutura de cria e engorda tanto do frango, quanto do suíno. No oeste da Bahia, por exemplo, no caso do frango, há dois abatedouros – com verticalização de seus produtos -, um de porte médio e outro grande. Este, com capacidade instalada para exportar; aquele com capacidade para extrapolar as fronteiras da Bahia. Entretanto, são limitados pela falta de oferta de matéria prima – o frango na região. Um produz parte do que abate; o outro vai comprar o frango vivo em Brasília, há 600 km de distância. Contradição: a região é um dos maiores produtores de soja, milho e sorgo no Brasil. A alegação na região é que os investimentos em estrutura é muito alto e o retorno pequeno. Que orientação a ABPA daria ao conjunto empreendedores- possíveis granjeiros -governos?

"A tendência natural é que a área do MATOPIBA receba mais investimentos de empresas que busquem ganhar competitividade com a proximidade dos polos de produção de milho e de soja"
“A tendência natural é que a área do MATOPIBA receba mais investimentos de empresas que busquem ganhar competitividade com a proximidade dos polos de produção de milho e de soja”

Francisco Turra –Investimentos em infraestrutura são grandes e difíceis para as empresas, especialmente neste momento complicado de retração econômica.  O crédito está escasso para as empresas, esteja onde estiverem instaladas.  São passos difíceis, que hoje são dados de forma mais estratégica, visando sempre a sustentabilidade.  Por isto, é natural que estes investimentos demorem um pouco mais, especialmente agora em que vemos os avanços da produção de aves e de suínos ocorrerem de forma mais pausada, sempre objetivando a sustentação econômica dos processos. Entretanto, acreditamos que eles acontecerão no longo prazo. A ABPA, como representação nacional, tem buscado articular junto ao governo formas de desenrolar recursos de investimentos para os diversos polos de produção.  Mais ainda: estamos constantemente negociando a viabilização de estruturas e facilitação de processos que tornem empresas com potencial de exportação mais competitivos.  Quer um exemplo?  Temos buscado a agilização da aprovação de rótulos, um problema burocrático simples que afeta empresas dos mais variados portes. E acredite: quando voltarmos a um ciclo de crescimento notável (lembrando que estamos em uma forte crise econômica no país) é bastante plausível que o MATOPIBA seja o próximo grande destino de investimentos das agroindústrias.  E junto deles, virão as empresas fornecedoras de pintinhos, de insumos, de equipamentos…  E toda uma cadeia produtiva que gera emprego e renda para a região e para o país.

*Da edição de julho da versão impressa da revista Cerrado Rural Agronegócios

 

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