13 ago de 2016
Oeste – Notícias da Agricultura – Entenda como o Sertão virou lavoura

Áreas antes consideradas inóspitas, hoje produzem soja e milho com alta tecnologia e produtividade e alavancam a economia

Hanny Guimarães | Fotos Jonathan Campos
“Após percorrer mais de 9.000 quilômetros pelas lavouras do centro-oeste e sul do Brasil, a repórter Viviane Taguchi passou o bastão da Expedição Safra 2012, promovida pela Gazeta do Povo, para mim. O próximo destino é a nova fronteira agrícola do país, a região conhecida por Matopiba (engloba os Estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia).

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Mais sete dias de viagem e 4.000 quilômetros de estrada – nem sempre em condições trafegáveis. Em Tocantins, a expansão do cultivo de grãos e as possibilidades de milho safrinha estão animando os produtores. De lá, seguimos para Luís Eduardo Magalhães, no oeste baiano, cidade de 50 mil habitantes que cresce impulsionada pela agricultura. No Estado, ainda passamos por Barreiras, partindo para Bom Jesus e Uruçuí, no Piauí. Por fim, chegamos a Balsas, no Maranhão, onde o cultivo de soja e milho está mais consolidado e a expansão de área chega a 10% nesta safra, de acordo com dados levantados pela expedição.

O desenvolvimento de tecnologias específicas para a região está melhorando os índices de produtividade. Sementes mais resistentes à seca e às doenças só não afastaram as abelhas-jataí que nos infernizaram em um “dia de campo”. Dizem que o aparecimento delas significa chuva, e fiquei torcendo para que a água chegasse logo.

Se no sul do Brasil a seca foi implacável e motivo de quebra, no Matopiba a chuva chegou e está animando as expectativas de safra recorde na região. Relatos isolados de perdas devido à seca em determinadas áreas não puxam as estimativas para baixo. Os produtores esperam colher neste ano entre 60 e 70 sacas por hectare, número que supera as 50 sacas de 2011. As áreas possíveis de expansão, o clima e as novas tecnologias estão beneficiando as boas safras.

FORA DE ÉPOCA

 

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Um veranico prejudicou o desenvolvimento dos grãos na Fazenda Boiadeiro, do produtor e zootecnista Franco Bosa, em Luís Eduardo Magalhães. Partes da propriedade de 2.000 hectares sofreram com a estiagem e Bosa contabiliza perdas de 20% a 40% nas áreas atingidas. O veranico é comum em janeiro, mas neste ano atrasou e pegou os agricultores de surpresa, em fevereiro. Já na comunidade Novo Paraná, Jaime Cappellesso afirma que não tem do que reclamar. Ele diz que o “solzinho” apareceu na hora errada e na pior época, que é de maturação dos grãos, mas em sua fazenda o problema foi menor que nos vizinhos. O gaúcho, há 32 anos na Bahia, planeja colher 60 sacas por hectare e vender por cerca de R$ 46 a saca. O presidente do Sindicato Rural do município, Vanir Kölln, acredita que a região deverá ter um resultado inferior ao de 2011, com média de 52 sacas por hectare, como é o caso de Bosa.


 

 

 NA CALADA DA NOITE

 

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Nossa chegada ao oeste baiano foi marcada por uma colheita feita às pressas, durante a noite. Na entrada de Luís Eduardo Magalhães, as luzes da colheitadeira iluminavam os pés de soja prestes a ser colhidos. O trabalho acontece para que os grãos, amadurecidos pela força do sol na região, não percam umidade e peso e, também, para quando há previsão de chuva para o dia seguinte, o que prejudicaria a labuta na lavoura. Índices de umidade de 10% levam a perdas de cerca de duas sacas de 60 quilos por hectare. A umidade ideal deve variar de 13% a 15%.


 

 

 FÉ EM DEUS E PÉ NA TÁBUA

 

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Para chegar a muitas lavouras do Matopiba, a condição, como se vê na foto, é complicada. Ao longo do trajeto, deparamos com rodovias esburacadas, muitas sem asfalto, onde, dependendo do clima, a lama ou a poeira toma conta da pista. Quando a chuva é boa para a lavoura, é péssima para as estradas, que ficam praticamente intransitáveis, causando prejuízos aos caminhões e limitando o escoamento de grãos da região. Na PI-397, conhecida como TransCerrados, os produtores apelam e pedem aos céus uma solução.


 

 AMOR NA CHAPADA

 

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O casal Geisa e Wilson Marcolin chegou há 13 anos ao Piauí e passou maus bocados até fundar, ao lado de outros migrantes que, como eles, chegavam do Rio Grande do Sul e do Paraná, a comunidade de Nova Santa Rosa, no município de Uruçuí. De mudança em um caminhão com mais 70 galinhas para alimentação, eles tinham de percorrer 90 quilômetros para conseguir 1.000 litros de água, que deveriam durar uma semana. Geisa e Wilson se conheceram ali mesmo na Serra Branca. Ele pensou em desistir, mas ela logo fisgou o rapaz, e a dupla decidiu permanecer. Hoje, não saem por nada de Nova Santa Rosa. A propriedade de 1.050 hectares, com milho e soja, valorizou tanto que chega a custar entre 170 e 180 sacas de soja por hectare. “Se algum louco quiser pagar 250 sacas, a gente até pode pensar”, brinca Geisa.


 

 NOVAS ÁREAS

 

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Balsas foi uma das cidades na nova fronteira agrícola que receberam maior incremento da Ceagro/Grupo Los Grobo em expansão de áreas. A companhia, que agora tem a participação da Mitsubishi e atua em cinco Estados e 18 fazendas, plantou 5.500 hectares a mais do que no ciclo anterior, num total de 47.400 hectares cultivados. “Vai ser uma grande safra. Tivemos problemas pontuais com seca no oeste da Bahia, mas isso não representa redução na produção do Matopiba”, disse Paulo Fachin, CEO da empresa.


 

 INVASÃO SULISTA

 

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O chimarrão estava nos esperando já preparado, ao lado de uma garrafa com água quente, na fazenda de 4.000 hectares do agricultor Ivo Pieta, em Currais (PI), onde tomamos café da manhã para seguir viagem até Balsas. A bebida é um sinal do avanço sulista na nova fronteira agrícola. A cultura e os sonhos de catarinenses, gaúchos e paranaenses predominam na região.

Revista Globo Rural

 

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