21 out de 2017
Brasil – Agricultura – O papel do Engenheiro Agrônomo no mundo contemporâneo

Fernando Mendes Lamas
Pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste
fernando.lamas@embrapa.br
O Brasil vem experimentando uma profunda transformação em sua agricultura,
antes baseada na produção de café e cana-de- açúcar. Enquanto exportávamos café e
açúcar, não tínhamos a nossa segurança alimentar garantida. Importávamos em
quantidades significativas arroz, feijão, trigo, etc., produtos básicos na dieta alimentar
da população brasileira.

Hoje, de grande importador, passamos para grande exportador de produtos
agrícolas como o complexo soja (grãos, farelo e óleo), milho, algodão, etanol, celulose e
carnes (bovina, suína e de aves). Já ultrapassamos a barreira da produção de uma
tonelada de grãos per capita.

Especialmente ao longo dos últimos quarenta anos, a produtividade dos
principais produtos da agricultura (vegetais e animais) aumentou significativamente. Em
1977, quando Mato Grosso do Sul foi criado, a produtividade de milho era de 1.743
kg/ha, na última safra foi de 5.521 kg/ha. A produtividade da soja no mesmo período, de
acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) saltou de 2.200 para
3.400 kg/ha. Ambos são exemplos, que reforçam o espetacular aumento de
produtividade.

Ganhos extraordinários também foram obtidos na pecuária de corte. Atualmente,
Mato Grosso do Sul é líder na produção de novilho precoce. Além de ganhos de
produtividade também foi possível inserir nos sistemas de produção agropecuário do
Estado, outras espécies como: cana-de- açúcar, eucalipto, trigo, goiaba, abacaxi,
melancia, mandioca, algodão e urucum. Técnicas modernas de produção, como o
sistema plantio direto e o sistema integração lavoura-pecuária também fazem parte da
realidade agrícola do Estado.

Todo o processo de transformação da paisagem agrícola de Mato Grosso do Sul,
teve como ator principal o produtor rural com sua capacidade empreendedora, sua visão
de futuro, dedicação, dentre outras características indispensáveis para que fosse possível
alcançar os níveis atuais. Um exemplo da capacidade empreendedora dos empresários
rurais de Mato Grosso do Sul, é a obtenção da produtividade de soja da ordem de 4.440
kg/ha obtida em uma área cultivada de 6.000 ha. Esses resultados não deixam dúvidas

que ainda podemos crescer muito em termos de produtividade. Porém, o uso da
tecnologia é fundamental para isso.

Esses avanços foram possíveis graças ao produtor rural, que tem como seu
aliado, de primeira hora, o Engenheiro Agrônomo.
O papel do Engenheiro Agrônomo, desde os primeiros momentos do processo de
colonização de Mato Grosso do Sul foi decisivo para que O Estado pudesse chegar
aonde está hoje. Não sou o Engenheiro Agrônomo pioneiro, antes de mim, já estavam
aqui muitos outros. Profissionais daqui, do antigo Mato Grosso e outros vindos de São
Paulo e de Minas Gerais, principalmente. Os pioneiros, enfrentaram inúmeras
dificuldades, especialmente no que se refere à questão de infraestrutura. Mas, talvez a
maior de todas as dificuldades fosse a falta de informações geradas a partir de trabalhos
desenvolvidos na região.

A partir das ações extensionistas desenvolvidas pelos técnicos da ACARMAT,
EMATER-MT e, posteriormente EMPAER-MS, trabalhos realizados pelos técnicos da
FECOTRIGO e da Secretaria Estadual de Agricultura começam a ser geradas
informações locais, que facilitaram grandemente as recomendações técnicas. Ainda
antes da criação de Mato Grosso do Sul, foi criada em Dourados, em 1975, a UEPAE-
Dourados, unidade da Embrapa responsável pela geração de conhecimento local. Na
mesma época foi criado em Dourados, o Curso de Agronomia da UFMS. Em 1977,
também foi criada a Associação dos Engenheiros Agrônomos da Grande Dourados
(Aeagran). Ficando assim evidente, a importância do papel do Engenheiro Agrônomo
enquanto agente de desenvolvimento.

Atualmente existem em Mato Grosso do Sul 5.600 Engenheiros Agrônomos,
registrados no Conselho Regional de Engenharia e Agronomia, atuando na pesquisa, na
assistência técnica, no ensino, na indústria de insumos, de alimentos, na gestão de
empresas agropecuária, em entidades de classe, em diversos órgãos do poder público no
âmbito federal, estadual e municipal. Enfim, o Engenheiro Agrônomo está presente nos
principais setores da economia do Estado.

No Brasil, existem aproximadamente 300 escolas de Agronomia,
disponibilizando anualmente milhares de Engenheiros Agrônomos.
Em Mato Grosso do Sul temos escolas de Agronomia em Aquidauana,
Cassilândia, Chapadão do Sul, Campo Grande (2), Dourados (3), Nova Andradina,
Ponta Porã e Três Lagoas. Anualmente, são formados quase duas centenas de
Engenheiros Agrônomos em Mato Grosso do Sul.

 

O papel do Engenheiro Agrônomo, está sendo modificado tendo em vista as
transformações porque passa a agricultura brasileira. Hoje, esse profissional precisa ter
uma boa visão sobre gestão, sobre perspectivas de cenário de médio e longo prazo, de
uma forma muito holística, além de visão estratégica. Não dá mais para se preocupar
apenas com um fator que interfere na produção e na produtividade. É preciso estar
atento às transformações que estamos enfrentando, na sua maioria de forma positiva.
Para ilustrar o que estou falando, vou usar como exemplo, o caso do algodão. A
fibra sintética, derivada do petróleo, concorre com a fibra natural do algodão. Se o preço
do barril de petróleo cai de U$ 100 para U$ 40, a competitividade da fibra sintética,
considerando o seu preço, aumenta.

Se a economia mundial não passa por um bom momento, as pessoas darão preferência por roupas produzidas a partir de fibra sintética,
mais baratas. Numa situação dessas, como ficam os preços da fibra de algodão? Este
exemplo ilustra muito bem, o quanto o Engenheiro Agrônomo do mundo
contemporâneo, em que a mobilidade e a conectividade das pessoas é algo fantástico,
precisa estar preparado para que possa atender de forma eficiente e eficaz todas aquelas
demandas que lhe chegam.

Hoje, muito mais do que ontem, o consumidor não consome somente o que lhe é
ofertado, ele tem exigências e é preciso ficar atento a isso. O tamanho das famílias é
cada dia menor, isto tem tudo haver, por exemplo com o tamanho da melancia que é
ofertada no mercado. O consumidor é exigente e seletivo.

Em síntese, ao Engenheiro Agrônomo do mundo contemporâneo estão
reservadas muitas oportunidades, mas também, é preciso estar muito atento às
transformações que estão ocorrendo. A cada dia, é maior a importância do Engenheiro
Agrônomo na produção de alimentos, fibra e energia, para uma população cada vez
mais urbana. Além, é claro, das questões relacionadas à preservação recursos naturais.

 

Christiane Rodrigues Congro Comas – Jornalista, MSc em Turismo e Hotelaria
Núcleo de Comunicação Organizacional – NCO
Embrapa Agropecuária Oeste
Dourados, MS
Oferecimento:
77 9 9926-6484 / 77 9 9979-1856