Uso de produtos químicos para combater a mosca-das-frutas era obstáculo às exportações
O tratamento hidrotérmico de frutas possibilitou a exportação de 25 toneladas de mangas brasileiras para a África do Sul, depois de cinco anos de negociações. O método consiste em mergulhá-las em água aquecida evitando, assim, o uso de químicos. A tecnologia foi desenvolvida por uma rede de pesquisa liderada pela Embrapa e permite contemplar exigências dos principais mercados importadores, que não aceitam a aplicação de produtos químicos no controle da mosca-das-frutas (Ceratitis capitata). A praga é uma das maiores ameaças à fruticultura atingindo diversas variedades de frutas.
Durante muito tempo, o Brasil só usava o controle químico para combater a praga, prática que chegou a fechar portas de mercados consumidores que adotam barreiras fitossanitárias exigentes. A técnica brasileira foi adaptada de um tratamento utilizado em países, como o México, e consiste em mergulhar frutas de até 425 gramas em água aquecida a 46ºC por 75 minutos e frutas entre 426g e 650g, por 90 minutos. O procedimento elimina ovos ou larvas do inseto.
O trabalho dos cientistas brasileiros foi desenvolver parâmetros para as condições nacionais no combate à mosca-das-frutas, já que a técnica só era utilizada para outras pragas.
Além do tratamento hidrotérmico, foi indicado o monitoramento das populações da mosca no campo, a fim de subsidiar o combate feito com métodos isentos de químicos, como a instalação de iscas no pomar e outras técnicas de manejo integrado de pragas (MIP). O sucesso levou a um novo modelo brasileiro de certificado fitossanitário, que abriu à fruticultura nacional também os mercados da Coreia do Sul, Japão, Chile, Argentina, Estados Unidos, União Europeia e, recentemente, da África do Sul.
A rede de pesquisa responsável pelo desenvolvimento da técnica é composta por especialistas da Embrapa, do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB/USP) e da biofábrica Moscamed Brasil, com a supervisão do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) e o apoio da Associação dos Produtores e Exportadores de Hortifrutigranjeiros e Derivados do Vale do São Francisco (Valexport).
Vale das frutas
A região do Vale do Rio São Francisco é o principal polo frutícola do País, em especial de mangas das variedades Tommy Atkins, Kent, Palmer e Keitt. Em 2009, por suas uvas de mesa e manga de qualidade diferenciada, recebeu do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) o selo de Indicação de Procedência, requerido pelo Conselho da União das Associações e Cooperativas dos Produtores de Uvas de Mesa e Mangas do Vale do Submédio São Francisco (Univale).
Segundo dados da Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas), o Vale do São Francisco é responsável por 90% da manga brasileira exportada e gera 200 mil empregos diretos. “De janeiro a setembro de 2018 as exportações totais de manga somaram US$ 93,43 milhões. Dos 93 mil hectares plantados em 2017, 35.630 hectares produzem manga”, informa Eduardo Brandão, da Abrafrutas.
Os Estados Unidos são o principal consumidor individual de mangas do Brasil, com uma particularidade, ficando atrás somente da Alemanha, que serve como hub [central de distribuição] para os demais países da Europa.
“Sabemos que o mercado da África do Sul tem muito potencial, porém ainda é cedo para falarmos em volume anual de exportação. Até o momento, são quatro empresas credenciadas e a Abrafrutas trabalha para aumentar esse número. A primeira remessa foi enviada pela empresa Argofruta”, conta Eduardo Brandão.
Contatos para a imprensa
[email protected]
Telefone: (75) 3312-8076